CREMERJ em Revista Março / Abril - 2021

12 CREMERJ em Revista • Março / Abril | 2021 Acadêmicos Os desafios das aulas práticas de medicina em formato on-line Com a chegada da pande - mia da Covid-19 no Brasil, a determinação do distancia - mento social levou as insti - tuições de ensino a paralisa - rem suas aulas em meados de março de 2020 e retornarem, aos poucos, por meio de aulas on-line que se estendem até hoje. Essa decisão gerou uma perda significativa no apren - dizado dos estudantes, sendo os cursos da área da saúde os mais prejudicados, pois são os únicos com disciplinas que exi - gem contato físico. No curso de medicina, as aulas práticas nos períodos ini - ciais, em muitas instituições, são aplicadas virtualmente até hoje, além de terem sofrido redução da carga horária. Al - gumas faculdades particulares oferecem às turmas progra - mas em terceira dimensão. Já nas públicas, bem mais de - fasado, são utilizados vídeos, fotos e YouTube. Quem entrou ou ainda vai entrar para o in - ternato durante a pandemia teme pela relação médico-pa - ciente. O presidente da Associação do Estudante de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Ae- med), Miguel Pereira, que cur- sa o 9º período da Universida - de Federal Fluminense (UFF), entende a necessidade do dis- tanciamento e o medo de pro - fessores e alunos. Por outro lado, lamenta a forma como o processo vem sendo aplicado. Ele, que chegou ao internato sem concluir dois períodos de aulas práticas, já enfrenta as consequências causadas por essa lacuna. Coma pandemia do novo coronavírus, acadêmicos de medicina passama ter aulas práticas à distância e temempor sua formação “Dá medo ser interno e não saber como lidar. A prática motivava, conversávamos com o paciente. Agora as turmas só falam da doença e veem víde - os, é bem diferente. A relação médico-paciente precisa ser treinada desde cedo, não va - mos voltar naquele conteúdo, é um prejuízo irreparável”, de - clarou. Dentro das faculdades, existem grupos de alunos, professores e representantes que tentam negociar essa ca- rência. No caso da UFF, segun - do Miguel Pereira, ela garan- te que dará todo o conteúdo teórico previsto. Quanto às práticas, a resposta é que elas serão aplicadas no futuro, mas não informaram quando. Ao contrário da rede públi - ca de ensino, a realidade das faculdades particulares pa - rece um pouco melhor, mas nem por isso os alunos não enfrentam problemas e sen - tem medo como os outros. Cursando o 7º período na Uni - versidade Estácio de Sá, Flávia Gebran, que também é mem - bro da Aemed, voltou às aulas práticas em agosto de 2020 em forma de reposição. Mas o retorno continua sendo um grande desafio. “A questão do medo vem se agravando cada vez mais. Escolher entre o ensino e a se- gurança tem sido o maior de - safio”, explica. Flávia ainda levanta outro ponto importante, a perda na sua formação. Ela cita exem - plos como o prejuízo na rela - ção com os professores, a falta de debates em sala de aula, a preocupação em não saber atender um paciente no futu - ro e a sensação de desprepa - ro. “Lá na frente, não vamos atender por teletransmissão. Vamos ter contato com pa - cientes na emergência, na terapia intensiva, na residên - cia. No futuro, somos nós que iremos pegar na mão desse paciente, conversar, auscultar, discutir tratamento e diag - nóstico com ele. Estamos per - dendo toda essa parte da me - dicina e nenhum livro irá nos ensinar isso”, desabafa. Outra dificuldade relatada por Miguel é a ausência de or - ganização e de apoio. Alguns programas, por exemplo, são obtidos por conta dos alunos. Também não houve orienta - ção de como usar as platafor - mas, como Google Classroom, Google Meet, Objectview e outras, que, muitas vezes, aca- bam sendo sugeridas pelos próprios estudantes. No outro extremo, Flavio Antonio de Sá, professor da Universidade do Estado do Rio

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