CREMERJemRevista-Jul19

CREMERJ em Revista • Julho | 2019 19 diferentes formas clínicas, a anatomia patológica, os testes para seu diagnósti- co e posteriormente como evitar essa doença. Infe- lizmente, não viveu o su- ficiente para achar a cura. Merecia o prêmio Nobel, que não veio. O processo de escolha é longo. Inicialmente, o Co- mitê do Nobel envia car- tas confidenciais a pessoas qualificadas, para que fa- çam suas indicações. O pro- cesso começa em setembro, e, após diversas avaliações, o laureado é conhecido em outubro do ano seguinte. Como norma do prêmio, as informações sobre quem são os indicadores e indi- cados permanecem secre- tas por 50 anos. Há muitas controvérsias que só come- çaram a ser conhecidas a partir de 1974, com a divul- gação parcial dos arquivos. O prêmio é concedido para as descobertas de grande importância em ciências da vidaoumedicina, quemuda- ram o paradigma científico e de grande benefício para a humanidade. A Assembleia do Nobel, composta por 50 membros do Instituto Ka- rolinska, é responsável pela seleção dos laureados do Nobel, dentre os candida- tos recomendados pelo Co- mitê Nobel. A escolha do premiado é feita por votação majoritá- ria, e a decisão é sem apelação. Não pode haver autoindicação nem indicação de pessoas já falecidas. Carlos Chagas foi indi- cado, oficialmente, em 1913 e 1921. Em 1913, recebeu o voto do único brasileiro do comitê do Nobel, o médico Pirajá da Silva, que identifi- cou o Schistosoma manso- ni , no Brasil. Em 1921, ape- sar de haver dois brasileiros no comitê, apenas Hilário de Gouveia votou em Cha- gas. O cirurgião C.S. Maga- lhães votou no inglês Patri- ck Mason, especialista em Medicina tropical. Incrível! As pesquisas de vários histo- riadores nos arquivos públi- cos não encontraram dados paraentenderporqueChagas foi rejeitado, sendo que em 1921 não houve premiação para o Nobel de Medicina. Homem modesto e cons- ciente do sigilo médico, ja- mais comentou o tema, para “não pressionar a Academia, cuidado para não magoar colegas” e “só admitia fa- zer sua ciência se essa fos- se grandiosa e bela, e em defesa da vida”, conforme o belo texto de Pinto, Coura e Coutinho publicado no Por- tal da Doença de Chagas. A postura de Chagas deve ser um exemplo para os médicos brasileiros não serem uma colônia mane- jada por interesses estran- geiros. Pouco importa ele não ter recebido o prêmio e os mistérios dos basti- dores, pois muitos outros cientistas foram também preteridos, o que obrigou a Fundação Nobel a reco- nhecer que a premiação pode ser compartilhada. O pior, no meu entender, é a falta de um filme ou se- riado sobre Chagas e ou- tros médicos brasileiros que jamais podem ser es- quecidos por sua luta e sua resiliência. Alfredo Guarischi, médi- co, Cirurgião Geral e Onco- logico. Mestre em Cirurgia pela UFRJ. Fellow em Cirur- gia pela Universidade de To- ronto, Canadá. Diretor de Comunicação do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Con- sultor em Risco e Segurança. alfredoguarischi@yahoo.com.br Carlos Chagas e Albert Eintstein no Rio de Janeiro

RkJQdWJsaXNoZXIy NDE1MzA5