Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 3 - número 2 - 2024

20 Testes diagnósticos em doenças infecciosas Fernando S.V. Martins et al. Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.3, n.2, p.7-64, mai-ago 2024 a cultura. Cabe ressaltar que a negatividade do teste de antígeno não exclui a infecção estreptocócica, o que torna recomendável complementar com a cultura. Contudo, com a perspectiva de introdução de teste molecular estreptocócico, (30) certamente de maior sensibilidade que o teste de antíge- no, é possível que a cultura complementar, diante de resultado negativo, não seja mais rotineiramente necessária. A cultura de swab de orofaringe também pode ser útil na investigação de caso suspei- to de difteria ( Corynebacteriumdiphtheriae ). Adicionalmente, podem ser empregadas na identificação de portadores assintomáticos de agentes potencialmente capazes de cau- sar doença (patógenos primários), como C. diphtheriae e Neisseria meningitidis. No que diz respeito às causas virais de faringoamigdalite, usualmente não é essencial definir etiologia, dado que qua- se sempre não está disponível recurso terapêutico específico. Naturalmente, o recurso laboratorial pertinente (molecular e/ou sorológico) poderá ser considerado, se a confirmação repercutir na conduta terapêutica, tal como pode ocorrer nas in- fecções pelo vírus herpes simples (HSV), pelo vírus Epstein-Barr (EBV) e pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Trato respiratório inferior Até bem recentemente, se acreditava que o trato respiratório inferior era estéril. Contudo, a implementação de procedimentos de coleta de amostras respiratórias rigoro- samente protegidos e a reprodutibilidade de achados emdiferentes estudos têm revelado a existência de uma microbiota pulmonar complexa. (31) Esta microbiota de certa forma espelha a microbiota oral, sugerindo que possa resultar de eventos de microaspi- ração continuados. Diante deste achado, a explicação para a gênese da pneumonia não se resume à invasão de um espaço estéril por ummicrorganismo proveniente da oro/ nasofaringe, mas possivelmente resulta de um estado de ruptura da homeostasia do complexo ecossistemamicrobiano pulmonar. O escarro expectorado pode conter mi- crorganismos diversos, provenientes de pontos distintos da árvore respiratória. Acresce, a possibilidade de “contamina- ção" adicional pela vasta microbiota da orofaringe durante a passagem do escarro (espontaneamente ou após indução), o que pode tornar pouco confiável o resultado de culturas. A contaminação (em maior ou menor grau) também ocorre quando o material é obtido por aspiração endotra- queal ou mesmo pelo lavado broncoalveolar, em razão da passagem do material ou do dispositivo de coleta pela orofaringe. As culturas, no entanto, são indiscutivelmente úteis no caso de suspeita de doenças, como a tuberculose, causadas por agentes que não façam parte da microbiota residente local. Não obstante a constituição microbiana diversa e a presumível contaminação da secreção expectorada, uma amostra de escarro adequadamente colhida e corada

RkJQdWJsaXNoZXIy ODA0MDU2