Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 2 - número 3 - 2023

81 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.2, n.3, p.80-100, jul-set 2023 Febre amarela: uma trilha inacabada Terezinha Marta Pereira Pinto Castiñeiras, Luciana Gomes Pedro Brandão, Guilherme Sant'Anna de Lira endêmicas tem sido subestimada (3) e res- saltando a importância de desenvolver ferramentas eficazes na prática clínica e nas políticas de saúde pública. 2. ETIOLOGIA O vírus da febre amarela (VFA) é um vírus RNA de fita simples, encapsulado, membro protótipo do gênero Flavivirus, da família Flaviviridae (do latim flavus, “ama- relo”), um grupo de vírus que são trans- mitidos entre vertebrados por vetores ar- trópodes. A nível genômico, distinguem-se sete genótipos principais, (4) representando a África Ocidental (dois), África Centro-O- riental e Angola (três) e a América do Sul (dois). Apesar dos diferentes genótipos, o VFA é antigenicamente conservado, com um único sorotipo, o que é fundamental para a efetividade da vacina. 3. TRANSMISSÃO A principal forma de transmissão do vírus da febre amarela é através da picada de fêmeas infectadas de mosquitos Aedes spp. , Haemagogus spp. ou Sabethes spp. (5) Ocasionalmente, foramdocumentados casos transmitidos por via perinatal, amamenta- ção, transfusão de sangue e transmissão laboratorial. A infecção do mosquito ocorre através da ingestão de sangue contaminado de seres humanos ou primatas não humanos (PNH). Cerca de 10 dias após (variando de 2 a 37 dias), em uma temperatura de 25°C, infectados. O vírus da febre amarela (VFA) teve origem na África e chegou ao Novo Mundo através do tráfico de escravos, com a primeira epidemia nas Américas rela- tada na península de Yucatán, em 1648. (1) Historicamente, a FA foi uma das grandes causas de morte por doenças infecciosas da humanidade. Epidemias de FA dizimaram milhares de pessoas na Europa, na África e nas Américas, contribuíram para o fracasso de missões militares e interromperam im- portantes projetos de engenharia, como as primeiras tentativas de construção do Ca- nal do Panamá. Apesar da disponibilidade de uma vacina segura e altamente eficaz desde a década de 1930, a FA persiste como doença relevante para a saúde pública, afetando cerca de 80 mil a 170 mil pessoas por ano em regiões tropicais da África e da América do Sul, com 29 a 60 mil óbitos, a maior parte na África. (2) Adicionalmente, representa um risco considerável para os viajantes não vacinados que viajam para áreas endêmicas. Os aumentos recentes na densidade e distribuição do vetor urbano, o Aedes aegypti , bem como a intensificação da mo- bilidade da população intensificam o risco de introdução e disseminação da FA em áreas de baixa cobertura vacinal que nunca haviam sido afetadas (emergência) ou se viram livres (reemergência) da doença há décadas. Os surtos recentes colocaram sob risco centenas de milhões de pessoas não vacinadas, demonstrando como a ameaça da febre amarela além das clássicas áreas

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