Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 2 - número 3 - 2023

87 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.2, n.3, p.80-100, jul-set 2023 Febre amarela: uma trilha inacabada Terezinha Marta Pereira Pinto Castiñeiras, Luciana Gomes Pedro Brandão, Guilherme Sant'Anna de Lira da fase de infecção é abrupto, com febre, mialgia, cefaleia, fraqueza, perda de apetite, náusea e êmese. A síndrome influenza-sí- mile é inespecífica, dura aproximadamente 2 a 5 dias, e a maior parte dos indivíduos se recupera completamente em uma semana, tornando-se imune. (28) Em 10%a 15%dos infectados, a uma fase de remissão curta (2 a 48 horas) se segue a fase toxêmica , caracterizada pelo retorno da febre, dor abdominal, icterícia, diátese hemorrágica, disfunção hepática, insufi- ciência renal, coma e choque. O sangra- mento pode ocorrer na cavidade oral, nasal, nos olhos ou no estômago. Recentemente, foi descrita uma acidose metabólica crítica em casos graves de FA, acompanhada de elevação de níveis séricos de lipase e alta prevalência de pancreatite. (13) Na forma grave, a letalidade gira em tor- no de 25% a 50%. Os principais preditores de letalidade são idade avançada, contagem de neutrófilos elevada, transaminases sé- ricas elevadas, icterícia, maior carga viral, e alteração da função renal. (12–14,35) A morte ocorre na segunda semana de doença, ge- ralmente entre 7 a 10 dias após o início dos sintomas. Nos sobreviventes, há um período de convalescência, caracterizado por fadiga e fraqueza com duração de semanas. 7. DIAGNÓSTICO A presunção do diagnóstico de um processo infeccioso deve ter como base fundamental as evidências clínicas e epidemiológicas. É fundamental avaliar cuidadosamente se houve uma possível exposição a um agente específico (oportu- nidade de infecção) e se o tempo decorrido entre a aquisição da infecção e o desen- volvimento das manifestações clínicas de doença (período de incubação) é compatível comuma determinada suspeita diagnóstica. O diagnóstico de FA pode ser um gran- de desafio, pois as manifestações clíni- cas são semelhantes a diversas outras doenças febris agudas e febris ictéricas, especialmente as doenças tropicais como leptospirose, malária, febre tifoide, ri- quetsiose, hepatite viral aguda, dengue, Ebola e outras febres hemorrágicas. Cabe salientar, entretanto, que doenças que têm apresentações clínicas iniciais indistin- guíveis podem ser presumidas pela história epidemiológica. O diagnóstico presuntivo de FA é nor- malmente feito com base nos sintomas clí- nicos, no status de vacinação, e no risco de exposição, que está associado ao perfil epidemiológico do país ou da área afetada e ao histórico de viagens. Quando há uma exposição definida, é importante considerar se o período de incubação é compatível com a febre amarela, usualmente de 3 a 10 dias. O diagnóstico definitivo da FA é reali- zado através de métodos virológicos (detec- ção do genoma viral, isolamento do vírus) e/ou sorológicos. (36) Os testes diagnósticos comerciais não estão amplamente dispo- níveis e são comumente realizados em laboratórios de referência.

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