Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 2 - número 3 - 2023

85 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.2, n.3, p.80-100, jul-set 2023 Febre amarela: uma trilha inacabada Terezinha Marta Pereira Pinto Castiñeiras, Luciana Gomes Pedro Brandão, Guilherme Sant'Anna de Lira sendo estimada em 47%, (26) o que é insufi- ciente para promover imunidade de rebanho e prevenir surtos. De forma bastante preo- cupante, surtos vêm ocorrendo em vários países da África desde 2020, como Nigéria, Congo, Chade, Senegal e Gana. (27) c. Riscos para viajantes internacionais Mais de 9 milhões de pessoas que vivem em países não endêmicos na América do Norte, Europa e Ásia viajam para países endêmicos para FA, e esse número tende a crescer com o aumento das viagens in- ternacionais. É difícil estimar o risco exato de um viajante adquirir FA, pois o risco é influenciado por muitas variáveis, como o local de destino, a estação do ano, a taxa de transmissão no período da viagem, a cobertura vacinal da população na área endêmica, a duração da viagem e as ativi- dades programadas. Emmuitos países onde a FA é endêmica, a vigilância de casos em humanos e PNH é deficiente, o que difi- culta a quantificação precisa da atividade do VFA. A baixa taxa de transmissão e a elevada imunidade da população em áreas endêmicas pode dar uma falsa percepção de ausência de risco para o viajante. Os determinantes ecológicos de trans- missão do VFA são variáveis. Dependendo da estação do ano, o número de vetores pode aumentar, facilitando a transmissão. Na América do Sul, o risco de infecção pelo vetor silvestre é maior durante a estação chuvosa (janeiro-maio). Nas áreas rurais da África Ocidental, o risco é elevado durante a transição da estação chuvosa para a seca (julho-outubro). Entretanto, o A. aegypti pode transmitir o VFA em áreas rurais e urbanas mesmo na estação seca. As características individuais do via- jante também podem impactar os riscos. Dessa forma, o status de não vacinado, a inadequação das medidas contra picada de mosquitos, a permanência prolongada e o envolvimento em atividades ocupacio- nais ou recreativas que expõem o viajante ao ar livre durante os principais horários de picada de mosquito podem facilitar a aquisição de FA. Todos esses riscos devem ser levados em consideração na consulta pré-viagem para avaliar com precisão os riscos e benefícios da vacinação contra febre amarela, de for- ma individualizada. Como é desejável para muitos aspectos da prática da medicina de viagem, uma decisão clínica requer dados epidemiológicos atualizados para fazer escolhas informadas. A avaliação cuidado- sa do risco é particularmente importante quando se trata de populações nas quais existe maior risco de eventos adversos com as vacinas atenuadas. Com base no risco da população resi- dente na área endêmica, os riscos de adoe- cimento e morte por FA para um viajante que visita uma área endêmica na América do Sul são estimados, respectivamente, em 5 por 100.000 e 1 por 100.000. Para a África Ocidental, os riscos estimados são de 50

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