Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 2 - número 3 - 2023

84 Febre amarela: uma trilha inacabada Terezinha Marta Pereira Pinto Castiñeiras, Luciana Gomes Pedro Brandão, Guilherme Sant'Anna de Lira Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.2, n.3, p.80-100, jul-set 2023 aegypti , como São Paulo e Rio de Janeiro, aumentando substancialmente o risco de reurbanização da doença. (18) De dezembro de 2016 a junho de 2019, 2.251 casos e 772 mortes foram confirmadas no Brasil, um aumento de 2.82 vezes o total de casos nos últimos 36 anos. (19) Uma investigação ge- nômica no Brasil demonstrou que o surto se originou no nordeste do Brasil e se des- locou em direção ao sul em áreas onde o vírus nunca havia sido identificado. (20) De forma surpreendente, o VFA se moveu a uma velocidade de 4,25km/dia, o que pro- vavelmente explica a magnitude do surto. Em ambos os surtos, em Angola e no Brasil, a demanda de vacina contra fe- bre amarela ultrapassou a capacidade de produção e levou à necessidade de uso estratégico de doses fracionadas da va- cina para prevenção de disseminação da doença. (21) A recomendação da OMS para o uso de dose fracionada foi primariamente baseada em dois estudos clínicos. O pri- meiro foi um estudo holandês randomizado e controlado, que mostrou que o uso de dose fracionada de 0,1mL administrada por via intradérmica não foi inferior à dose padrão de 0,5mL administrada por via subcutânea. (22) O segundo, um estudo de determinação de dose da vacina com a cepa 17DD em recrutas saudáveis do Exército no Brasil, que mostrou taxas de soroconversão superiores a 97%, mesmo com frações de um décimo (1/10) da dose padrão. (23) Em sequência, foi estabelecida a utilização emergencial de dose fracionada (1/5 da dose padrão) para as quatro vaci- nas contra febre amarela pré-qualificadas pela OMS (24) e novos estudos estão em andamento para avaliação de não inferio- ridade imunológica de doses fracionadas em crianças entre 9 meses e 5 anos, e em adultos vivendo com HIV. A despeito de doses fracionadas terem demonstrado uma boa performance em proteção a curto prazo e persistência de soropositividade em 8 anos, ainda não está estabelecido de forma definitiva se o tempo de proteção será igual à dose inteira padrão. A reemergência da FA com as conse- quentes crises na saúde pública em Ango- la, na República Democrática do Congo e no Brasil evidenciaram a necessidade de uma estratégia abrangente, atualizada e intensificada para eliminação de epide- mias de FA. Neste cenário, foi estabelecida a estratégia global multiparceira para a Eliminação das Epidemias de Febre Amarela (EYE, 2017). Os três objetivos prioritários da EYE incluem a proteção da população sob risco através da vacinação em campanhas e na rotina, prevenção da disseminação internacional, e contenção rápida dos surtos. O estabelecimento de uma vigilância forte com capacidade la- boratorial é essencial para alcançar esses objetivos. (25) Em 2023, a vacina da febre amarela foi introduzida na rotina básica de vacinação em 36 países e territórios de risco para a FA, na África e nas Américas. Entretanto, a cobertura vacinal permanece insatisfatória,

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