Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 2 - número 3 - 2023

83 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.2, n.3, p.80-100, jul-set 2023 Febre amarela: uma trilha inacabada Terezinha Marta Pereira Pinto Castiñeiras, Luciana Gomes Pedro Brandão, Guilherme Sant'Anna de Lira nessa região não é significativo. Contudo, o A. albopictus está presente em várias partes da Europa e na América do Norte, e o risco de transmissão por esta espécie não pode ser completamente excluído. (9) Durante a primeira metade do século 20, o controle dos mosquitos e a vacina- ção em massa eliminaram a transmissão do VFA em áreas urbanas. Entretanto, casos esporádicos de FA associados ao ciclo silvestre e pequenos surtos em áreas rurais continuavam sendo registrados. (10) Nas décadas de 1960 e 1980, um aumento da atividade do VFA foi observado na África. Subsequentemente, surtos ocorreram na Argentina, no Paraguai e no sul do Brasil (2007-2009), em Uganda (2010) e no Sudão e na Etiópia (2012-2013). Estima-se que a cada ano ocorram cerca de 109.000 casos graves de FA nas áreas endêmicas, com 51.000 óbitos. (11) Esses nú- meros provavelmente são subestimados, visto que a maioria dos casos de FA é leve e não diagnosticada ou ocorre em áreas remotas com acesso restrito a serviços de saúde. Ademais, a capacidade laboratorial limitada e os serviços precários de vigilân- cia contribuem para a subnotificação em muitos países endêmicos. Mais recentemente, surtos contínuos de FA vêm afetando áreas endêmicas na África Ocidental e nas regiões Sudeste e Sul do Brasil, aproximando-se perigosamente de áreas densamente povoadas. Casos graves, incluindo óbitos, têm sido relatados entre residentes não vacinados e viajantes para essas regiões. (12–14) Consequentemente, a FA reemergiu como uma ameaça internacional de relevância em saúde pública. (15) b. Surtos recentes Em 2015-2016, um surto explosivo ocor- reu emAngola e se estendeu regionalmente para a República Democrática do Congo. Até julho de 2016, um total de 3.552 casos suspeitos, incluindo 875 casos confirmados e 355 óbitos, foram notificados pelas 18 províncias de Angola, com a maioria dos casos ocorrendo na Província de Luanda. (16) O surto resultou em infecção de trabalha- dores expatriados, incluindo pelo menos 11 trabalhadores que retornaram para a China, com um óbito. (17) Esses casos confir- mados na China foram os primeiros casos de FA importados para a Ásia. Embora não tenham sido identificados casos secundá- rios, com a presença maciça de A. aegypti aproximadamente 2 bilhões de pessoas na Ásia foram colocadas em risco. Em setem- bro de 2016, a epidemia foi controlada na África. Infelizmente, neste mesmo ano, a FA ressurgiu no Brasil. No final de 2016, o maior surto dos úl- timos 80 anos nas Américas teve início na região litorânea do Brasil, onde casos não eram notificados desde os anos de 1940 e a vacinação não era recomendada de rotina. O surto, primariamente associado ao ciclo silvestre, se estendeu para áreas de florestas contíguas às maiores megaló- poles da Região Sudeste, infestadas de A.

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