Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 2 - número 3 - 2023

82 Febre amarela: uma trilha inacabada Terezinha Marta Pereira Pinto Castiñeiras, Luciana Gomes Pedro Brandão, Guilherme Sant'Anna de Lira Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.2, n.3, p.80-100, jul-set 2023 o vírus passa a ser secretado na saliva e o vetor é capaz de transmitir o vírus para um hospedeiro suscetível durante um novo repasto. Esta fase no mosquito corresponde ao período de incubação extrínseco. Tanto os seres humanos quanto os PNH apresentam viremia suficiente para infectar os mosquitos, e ambos são vulneráveis à infecção e ao adoecimento. Os mosquitos são os principais reservatórios do vírus, permanecendo infectados ao longo de toda a vida (1 a 3 meses) (6) e transmitindo o vírus por via transovariana. Os ovos infectados dos mosquitos podem resistir à estação seca. Adicionalmente, a transmissão ve- nérea nos mosquitos Aedes pode ter um papel na manutenção das arboviroses em períodos interepidêmicos. (5) Na natureza, o vírus é mantido no ciclo enzoótico pelos mosquitos e os PNH, o que torna imprati- cável a erradicação da doença. Três tipos de ciclos de transmissão fo- ram bem caracterizados na febre amarela. (7) No ciclo silvestre , a transmissão é feita por intermédio de mosquitos dos gêneros Haemagogus spp. e Sabethes spp. e per- petua-se através da infecção de PNH e da transmissão transovariana no próprio mosquito. Ocasionalmente, indivíduos sus- cetíveis (não vacinados) que entram em área de floresta por motivo de trabalho ou viagem podem adquirir a doença. No ciclo intermediário (savana), exclusivo da África, mosquitos semidomésticos que se reproduzem em árvores (como por exemplo A. africanus ) infectammacacos e humanos em áreas limítrofes de savanas, levando a uma transmissão constante de febre amare- la entre mosquitos, PNH e seres humanos. O ciclo intermediário pode facilitar a dis- seminação da doença para áreas urbanas com maior densidade populacional. O A. albopictus, um vetor muito eficiente na transmissão da febre amarela, pode também desempenhar um papel de “vetor ponte” na ligação entre o ciclo intermediário e urbano. (3,8) No ciclo urbano , um indivíduo infectado retornando da área de selva ou de savana introduz o vírus em áreas urbanas altamente povoadas, com alta densidade de A. aegypti e muitas pessoas suscetíveis. Nesse cenário, o mosquito infectado trans- mite febre amarela de pessoa para pessoa e grandes epidemias podem ocorrer. 4. EPIDEMIOLOGIA a. Distribuição geográfica A febre amarela é endêmica e inter- mitentemente epidêmica na África sub- saariana e na América do Sul, onde 42 países são considerados endêmicos e de risco elevado para reemergência da FA, com possibilidade de surtos explosivos. Curiosamente, embora o principal vetor do VFA, o A. aegypti, seja amplamente distribuído na Ásia, não há registro de transmissão autóctone neste continente. Na Europa, até o momento presente, o ve- tor potencialmente implicado ( A. aegypti) não se estabeleceu de forma persistente e, consequentemente, o risco de transmissão

RkJQdWJsaXNoZXIy ODA0MDU2