Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 2 - número 3 - 2023

19 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.2, n.3, p.18-37, jul-set 2023 Acalasia: diagnóstico e terapêutica Gerson Domingues e Ana Tarasiuk dois terços inferiores do esôfago, a mus- culatura é composta por músculo liso, e a sua contração se dá por um mecanismo mais complexo de interação do sistema nervoso central com o plexo neuromuscular intrínseco de Auerbach . Assim, do núcleo motor dorsal do vago saem fibras eferentes pré-ganglionares que fazem sinapses com neurônios inibitórios e excitatórios do plexo de Auerbach. Em circunstâncias normais, a via inibitória é ativada primeiro, liberando seu neurotransmissor, o óxido nítrico (NO), que promove o relaxamento das fibras musculares lisas do esôfago distal e do EEI. Este período de inibição muscular é conhecido como “período de latência”. (3) Em uma sequência peristáltica normal, o período de latência é tão maior quanto mais distal for o segmento do esôfago, de tal forma que os segmentos proximais contraem antes dos distais (“gradiente de latência”), gerando a onda peristáltica no sentido crâ- nio-caudal. Ao período de latência, segue-se a contração muscular, que ocorre devido à liberação de ACh pelos neurônios excita- tórios do plexo mioentérico, estimulados, também, pelas fibras eferentes do núcleo motor dorsal do vago. Desta forma, a peris- talse, bem como o relaxamento transitório do EEI são consequências do equilíbrio entre estímulos excitatório e inibitório. (1) ETIOPATOGENIA Acalasia é um distúrbio da motilidade esofágica, com distribuição mundial, sem da apresentação clínica compatível, a ma- nometria esofágica de alta resolução é con- siderada o método padrão ouro. As opções de tratamento atual são variáveis, desde a dilatação pneumática da cárdia até técnicas cirúrgicas como miotomia laparoscópica (MLH) a Heller e, mais recentemente, a miotomia endoscópica peroral (MEPO). FISIOLOGIA DO ESÔFAGO O esôfago é um órgão muscular e tubu- lar, composto por três regiões funcionais: o esfíncter esofágico superior (EES), o corpo do esôfago e o EEI. Em pessoas normais, a função motora esofágica consiste nos relaxamentos transitórios dos esfíncteres à deglutição e na atividade peristáltica do corpo, sendo modulada pelo córtex, tronco cerebral, plexos mioentéricos e influências periféricas. (1) A motilidade esofágica tem como função ordenar o trânsito do bolo alimentar da boca ao estômago e proteger o esôfago do suco gástrico. (1) Para executar tal função, o órgão possui uma porção com- posta de musculatura estriada e outra por musculatura lisa, que serão responsáveis por mecanismos distintos de contração. A musculatura da parede faríngea e do terço superior do esôfago é composta por músculo estriado e, portanto, as ondas peristálticas nessas regiões são controladas por impulsos em fibras nervosas moto- ras de músculos esqueléticos dos nervos glossofaríngeo e vago, sendo a acetilcolina (ACh) o neurotransmissor envolvido. Nos

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