Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 2 - número 2 - 2023

EDITORIAL | EDITORIAL 7 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.2, n.2, p.6-8, abr-jun 2023 O radiologista trabalha sob a pressão do imediatismo do diagnóstico e da elaboração de um laudo, que por sua vez necessita ter sua redação em ambiente favorável – silencioso, confortável e, preferencialmente, solitário. Somos frequentemente interrompidos, em nossa atividade diária, por colegas que, no desejo incontrolável, porém compreensível, de auxiliar seu paciente, adentram em nossas salas, sem per- ceberem que estamos absortos e compenetrados na interpretação de um exame que gera centenas de imagens que precisam ser avaliadas em diversos planos de reconstrução e diferentes janelas de densidades. Uma vez interrompido este trabalho, temos que retornar ao início do processo, uma vez que esta tarefa exige de nós a dinâmica de associar clínica, anatomia e fisiopatologia. Somos, assim, vistos como “médicos da coxia”, que trabalham numa sala solitária, por vezes em penumbra. Não compreendem a magia que existe em “reconstruir um paciente” que foi fatiado, seja pela máquina, seja pelo não radiologista que, invariavelmente, omite dados clínicos relevantes por deduzirem que radiologistas apenas veem “figuras”, quando na verdade trabalhamos utilizando as informações clínicas para formalizar um laudo que seja compreensível, informativo e capaz de ajudar a mudar a história e evolução de uma enfermidade. Há muitas imagens semelhantes que geram interpretações diferentes e que variam conforme cada paciente, o que torna único cada exame. Letras legíveis, correta identificação do paciente, evitar uso de siglas não consagradas pelo uso cotidiano, informar sobre o uso de medicamentos que possam sofrer interferência ou interferir no uso dos meios de contraste, relacionar exames relevantes para o quadro clínico, são condições que não apenas impactam a segurança do paciente, mas também contribuem para um diagnóstico mais assertivo. Em tempos de judicialização do ato médico, há colegas que professam a medicina defensiva, que a meu ver traz sérias limitações na comunicação entre os colegas. O radiologista pode apenas fornecer uma informação descritiva, que pouco ajuda o médico assistente, ou, de outra forma, atuar como um agente colaborativo na decisão que pode curar ou amenizar as mazelas. Isto en- volve comprometimento, responsabilidade, experiência e consciência de sua função na equipe transdisciplinar de saúde. Os radiologistas são como cicerones no hospital e deveriam manter as portas abertas. No en- tanto, há que haver entendimento por parte dos clínicos no sentido de que, da mesma forma que aguardamos o final de uma consulta em curso para abordá-los, também precisamos cumprir nossa tarefa ao final de um turno, o que inclui concentração para avaliação sistemática das inúmeras imagens geradas e elaboração correta do laudo, que uma vez carimbado, torna-se um documento médico legal. Nessa etapa, qualquer distração – por exemplo, trocar o lado direito pelo esquerdo – pode trazer transtornos irremediáveis. Precisamos que entendam, da mesma forma, que não é respeitoso adentrar a sala de ultrassonografia sem permissão, porque além de interromper o procedimento, estamos por vezes realizando um exame que expõe o paciente e é ético respeitar o pudor e direito à privacidade destes.

RkJQdWJsaXNoZXIy ODA0MDU2