Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 2 - número 2 - 2023

45 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.2, n.2, p.42-54, abr-jun 2023 Esteatose Pancreática José Galvão-Alves e Bruna Cerbino de Souza pró-inflamatórios. No tecido adiposo dos indivíduos obesos, tais mediadores pró- -inflamatórios, como o TNF-alfa, recrutam monócitos que serão futuramente transfor- mados em macrófagos do tipo M1. (10) Esse padrão celular se destaca por ser altamente pró-inflamatório e, quando ativado, induz a produção de outros sinalizadores, como interleucina-1-beta, IL-6, leucotrieno B4 e óxido nítrico, capazes de manter o estado inflamatório e, de forma parácrina, levar à resistência insulínica. (11) O excesso de ácidos graxos livres se deposita em outros sítios, como fígado, músculo estriado e pâncreas, além de ser responsável pela indução de sinais inflamatórios nestes locais e também contribuir para a resistência insulínica. No fígado, a acumulação de lipídios gera o estresse crônico do retículo endoplasmático dos hepatócitos, como também a conversão dos macrófagos, denominados células de Kupffer, em um fenótipo M1, determinan- do a produção de citocinas inflamatórias, oncostatina e prostaglandinas. (12-14) Tais moléculas sinalizadoras e os ácidos graxos livres liberados pelo tecido adiposo infla- mado no estado de obesidade, assim como o conteúdo resultante do metabolismo da microbiota intestinal alterada, contribuem para a polarização das células de Kupffer em um status inflamatório constante e perpe- tuado, ocasionando a resistência insulínica hepática e o desenvolvimento de DHGNA. (15) Devido à origem embriológica seme- lhante compartilhada pelo fígado e pân- creas, acredita-se que possam existir etapas comuns no processo de deposição de gor- dura ectópica nestes órgãos. Observa-se com frequência a coexistência de DPGNA e DHGNA, e ambas as condições estão for- temente associadas à obesidade e acúmulo de gordura visceral. (16,17) Assim, dois potenciais mecanismos po- dem levar à esteatose pancreática: morte das células acinares, seguida pela substi- tuição destas por tecido adiposo; e depósito de triglicerídios intracelulares relacionado com um excessivo balanço energético. (8) Há uma relação entre maior ingesta calórica e aumento do tecido adiposo visceral e subse- quente acúmulo de gordura ectópica. Foram observados em ratos alimentados com dieta hiperlipídica para indução da obesidade, a hipertrofia dos adipócitos, esteatose he- patopancreática e intolerância à glicose. Notou-se ainda que o peso do pâncreas foi maior nos obesos, quando comparado aos ratos magros. Além disso, as citocinas pró-inflamatórias IL-10-1-beta e TNF-alfa também estavam significativamente eleva- das no pâncreas dos ratos obesos. (16) Considerando todos estes achados, po- demos inferir que a esteatose pancreática é consequência do excesso de lipídios de- corrente de um desequilíbrio no balanço energético corporal e que seu desenvol- vimento é mediado, em parte, pelo sta- tus inflamatório crônico ocasionado pela obesidade. Novos estudos são necessários para melhor elucidação da inter-relação entre os processos imunomediados e sua base molecular.

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