Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 2 - número 2 - 2023

38 Hepatite alcoólica Bernardo da Cruz Junger de Carvalho et al. Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.2, n.2, p.25-41, abr-jun 2023 Num estudo franco-belga, 26 pacientes comHAG, sem critério de resposta ao cor- ticoide pelo Lille Model, foram transplan- tados. Tais pacientes foram assistidos por equipes de psicólogos, psiquiatras e assis- tentes sociais, num cenário em que a média de tempo entre a listagem e o transplante foi de 9 dias. A sobrevida dos pacientes foi, de fato, significativamente maior nos pacientes transplantados quando compa- rados aos que não realizaram transplante (77% versus 23%). Três pacientes voltaram a consumir álcool a partir de 2 anos após o transplante. (45) Esse artigo representou uma mudança de paradigma no tratamento dos pacientes com HAG. Após esse estudo inicial, vários centros de transplante em todo o mundo aceitaram essa nova indicação. (46-52) Recentemente, foi publicado o resultado do acompanhamento do grupo franco-belga com a conclusão de que a sobrevida de 2 anos foi semelhante no grupo de transplante precoce e no grupo de transplante padrão. (51) A principal preocupação com a indi- cação do TH é o potencial para uma alta incidência de recaída de álcool. Estudos em coortes europeias e americanas mostraram maior incidência de recidiva do que entre outros receptores de transplante comHAG (20% a 35% nos grupos de transplante precoce, em comparação com 10% a 25% nos grupos de transplante padrão). O American Consortium of Early Li- ver Transplantation for Alcoholic Hepa- titis (ACCELERATE-AH) desenvolveu recentemente o escore SALT (Sustained Alcohol Use Post–Liver Transplant), que é útil para determinar menor risco de re- caída. (53) . Uma análise retrospectiva multi- cêntrica do ACCELERATE-AH encontrou uma taxa de sobrevida em 1 ano de 94% e uma taxa de sobrevida em 3 anos de 84% com uma taxa de recaída de 11%. O escore MELD mediano foi de 39 e o escore Lille mediano foi de 0,82 para pacientes que receberam TH. (48) O TH deve ser considerado para pa- cientes com HAG com risco de vida que falharam na terapia médica e que têm baixa probabilidade de recaída de álcool com base em critérios médicos e sociais predeterminados. (34) CONCLUSÃO AHAG continua apresentando alta mor- bidade e mortalidade. Apesar dos avanços da pesquisa na patogênese dessa condição houve pouco progresso no seu manejo. A abstinência permanece crítica para maxi- mizar as chances de recuperação hepática e os corticosteroides continuam a desempe- nhar um papel importante em populações selecionadas. Dado o prognóstico sombrio e a cres- cente prevalência da HAG, são necessários mais esforços de pesquisa visando encon- trar novas terapias capazes de inibir as vias inflamatórias envolvidas no dano hepático progressivo. Enquanto isso, muitos centros ao redor do mundo estão recorrendo ao

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