Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 2 - número 2 - 2023

57 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.2, n.2, p.55-76, abr-jun 2023 Heterogeneidade da Síndrome de Sjögren: Estado da arte para a prática clínica Mirhelen Mendes de Abreu EPIDEMIOLOGIA SS afeta principalmente mulheres (razão média entre mulheres e homens 9:1), com média de idade variando de 51,6 anos (±13,8) a 62 (±13) anos. (3,4) No entanto, o início dos primeiros sintomas pode ocorrer anos antes do diagnóstico. Em relação à prevalência de SS na Europa, Cornec e Chiche analisaram três estudos epidemiológicos robustos e uma prevalência combinada estimada de cerca de 39/100.000 (0,04%) acerca da influência de geolocalização e etnicidade na epidemio- logia da SS primária (SSp). (4,5) Um estudo realizado na população da Grande Área de Paris revelou que pacientes com ascendên- cia não europeia apresentaram prevalência duas vezes maior de SS em comparação com as pessoas de origem europeia. No Brasil, os primeiros dados sobre a prevalência de SSp foramdesenvolvidos por Valim et al. em 2013 na cidade de Vitória, Espírito Santo. (5) Embora possivelmente subestimada, a prevalência nessa região foi de 0,17%. Outro estudo epidemiológico brasileiro relevante foi descrito emMontes Claros em relação à presença da infecção por Covid-19 e a incidência da SS, antes e durante a pandemia pelo coronavírus Covid-19. (6) Os dados foram extraídos do banco de dados públicos do Ministério da Saúde do Brasil (DATASUS, http://tabnet. datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sia /cnv/qauf. def) de janeiro de 2017 a dezembro de 2020, nas cinco macrorregiões brasileiras. Os au- tores evidenciaram que, ao longo do triênio 2017-2019, o número médio de casos novos diagnosticados como SS foi de 1.267, ao passo que em 2020 o número aumentou para 1.909 indivíduos registrados, um incremento de cerca de 50,7% no período comparado. O incremento foi consistente nas cinco ma- crorregiões brasileiras, variando de +27,3% na Região Sul para +105,6%na Região Cen- tro-Oeste. O aumento geral no Brasil foi de +642 (+50,7%) casos, comparando com o período anterior e durante a pandemia de Covid-19. Embora tenhamos observado um aumento ao longo de todos os meses de 2020, mais casos de SS foram relatados durante os meses seguintes à primeira onda brasileira de casos de Covid. Esses dados suscitam e fundamentam indagações acerca do papel infeccioso na patogênese da SS. PATOGÊNESE À semelhança de outras doenças au- toimunes, a etiologia de SS é desconhecida. (7) Até o momento, é amplamente aceito que a exposição a fatores ambientais es- pecíficos em indivíduos suscetíveis possa desempenhar um papel crucial, levando à desregulação do sistema imunológico e ocorrência de doenças. Mais especifica- mente, um desarranjo do sistema imune inato tem papel fundamental na patogênese da SS, especialmente nas fases iniciais da doença, através de um mecanismo envol- vendo a via do interferon (IFN) (Figura 1). O termo "epitelite" autoimune é cada vez mais utilizado para descrever essa condição. (7-9) De fato, as células epiteliais

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