Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 2 - número 1 - 2023
32 Manejo das complicações gastroenterológicas no paciente diabético José Galvão-Alves e Bruna Cerbino de Souza Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.2, n.1, p.16-41, jan-mar 2023 neurotransmissores locais que estimulam a motilidade gastrointestinal, porém novas descobertas apontam para uma atuação conjunta como fator de crescimento para os neurônios entéricos. (30) Pesquisas recentes atribuíram impor- tante papel ao microbioma alterado pelo DM na dismotilidade intestinal destes doentes, à medida que essa flora bacte- riana modificada prejudicaria a libera- ção de neurotransmissores e hormônios, através da inf lamação, do comprome- timento da função e da permeabilida- de das células da mucosa intestinal. (28) Além disso, também considerou-se o papel da renovação epitelial intestinal alterada na patogênese da enteropatia diabética, observada na mucosa intestinal de roedores diabéticos, revelando assim um rearranjo tissular local (31,32) que também se associou a um trânsito intestinal alterado. (33) A estase intestinal gerada pela enteropa- tia diabética é responsável pela criação de ummicroambiente favorável à colonização e ao desenvolvimento de uma flora bacteriana modificada, levando ao supercrescimento bacteriano do intestino delgado, condi- ção clínica que acomete aproximadamente 14,8% a 40% dos pacientes com DM (34,35) (Figura 4). Diagnóstico O padrão ouro para o diagnóstico de SCBID é a cultura do aspirado de secre- ção do jejuno proximal demonstrando a presença de mais de 10 5 organismos/mL. Entretanto, é um método invasivo, caro e disponível apenas em centros de pes- quisa. A cultura de jejuno foi largamente substituída por testes respiratórios com hidrogênio expirado, que possuem sim- ples execução e apresentam sensibilidade de 60% a 90% e especificidade de 85%, quando comparados à cultura. (37) A me- dida do metano expirado, em associação ao hidrogênio, amplia o ganho diagnós- tico em torno de 15%, pois há um grupo de indivíduos que apresenta microbiota metanogênica exclusiva. O resultado do teste respiratório é baseado na curva de hidrogênio/metano expirado após a in- gestão de substrato contendo glicose, a qual é prontamente absorvida no intestino delgado e, portanto, em circunstâncias normais, não deve resultar em aumento de hidrogênio/metano na respiração. O teste respiratório de hidrogênio e metano é um método barato, amplamente disponível e não invasivo para o diagnóstico de SCBID. Tratamento Considerando que o mau controle glicê- mico é fator de risco para todas as complica- ções diabéticas, a manutenção da glicemia em níveis preconizados pelo consenso da AGA representa a primeira linha de in- tervenção, que possibilita a prevenção da enteropatia diabética e, consequentemente, evita a instalação do SCBID. O tratamento para o SCBID é realizado com a prescrição de antibióticos efetivos
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