Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 2 - número 1 - 2023

47 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.2, n.1, p.42-60, jan-mar 2023 Abordagem clínica nas lombalgias: uma revisão narrativa Mirhelen Mendes de Abreu Dor nas articulações sacroilíacas A articulação sacroilíaca consiste em uma extensa rede de ligamentos tanto dorsalmente quanto ventralmente, e uma cápsula articular no terço inferior anterior da junção sacroilíaca. (4-6) Embora dor na articulação sacroilíaca seja mais frequen- temente presente nas nádegas, mais de 2/3 dos indivíduos terão lombalgia. Em aproximadamente 50% dos casos a dor irradia para a perna, às vezes abaixo do joelho. Ambos os ligamentos e cápsulas fibrosas estão imbuídos de nociceptores e ambos poderiam ser uma fonte de dor. A patologia intra-articular é mais comum em pessoas mais idosas, enquanto indivíduos mais jovens com sensibilidade proeminente e causas traumáticas possuem maior pro- babilidade de ter patologia extra-articular. Espondiloartropatias Espondiloartropatia refere-se a umgrupo de doenças reumáticas que incluem espon- dilite anquilosante (AS) e artrite psoriásica (PsA), dentre outras. (4-6) Essas condições sistêmicas tipicamente incluem múltiplas articulações, com espondilite anquilosante e espondiloartrite axial, que afetam prefe- rencialmente a coluna lombar baixa. Além da faceta e artrite da articulação sacroilíaca, outras manifestações da coluna vertebral incluem entesite e autofusão. A prevalência de espondiloartropatias varia de 0,2% a 0,5%para espondilite anquilosante a 0,05% a 0,25% para artrite axial enteropática. Dor nociplásica O termo “dor lombar inespecífica” é ambíguo. Semanticamente, o termo refe- re-se à dor lombar em que um gerador de dor específico, ou geradores, não tenham sido identificados – não que um não exista. (4-6) Historicamente, tem sido escrito que cerca de 90% dos casos de lombalgia não foram associados a uma causa clara, embora quase todos os estudos utilizados para esta prevalência não tenham envolvido o uso de ferramentas avançadas de diagnóstico (p. ex., testes eletrodiagnósticos). Muitos casos foram atribuídos à patologia miofas- cial, presente numa elevada proporção de doentes, independentemente de haver uma causa primária. Nos últimos cinco anos, o termo dor nociplásica tem sido introduzido, em que anormalidades objetivas podem ou não estar presentes, mas em que o principal mecanismo é a sensibilização do sistema nervoso. Como a dor neuropática e a dor nociceptiva podem coexistir, dor nociplá- sica pode estar presente em casos de dor nociceptiva ou dor lombar neuropática. ALTERAÇÕES NO CÉREBRO Mudanças estruturais e funcionais no cérebro têm gerado interesse, pois podem servir como biomarcadores ligando alte- rações anatômicas com dor. (7) Estudos têm identificado alterações comuns e especí- ficas da doença em regiões da substância cinzenta em pacientes com doença crônica lombar, indicando que a dor crônica está

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