Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 2 - número 1 - 2023

38 Manejo das complicações gastroenterológicas no paciente diabético José Galvão-Alves e Bruna Cerbino de Souza Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.2, n.1, p.16-41, jan-mar 2023 Atualmente, se reconhece que o depósito de glicogênio nos hepatócitos possa ocorrer independentemente das outras caracterís- ticas da síndrome. Sua fisiopatogenia envolve o descon- trole da glicemia, que possibilita a entra- da excessiva de glicose nos hepatócitos, haja vista que no fígado, contrariamente aos demais órgãos, a passagem de glicose para o interior das células ocorre por di- fusão passiva e independe da presença de insulina. Quando a insulina se encontra disponível na corrente sanguínea, oriunda do tratamento da doença de base, o DM1 na grande maioria dos casos, esta ativa a glicogênio sintase, enzima responsável pela conversão da glicose em glicogênio no in- terior dos hepatócitos, levando ao acúmulo deste no citoplasma das células hepáticas. Geralmente, se manifesta com dor ab- dominal, náusea, vômitos e alterações la- boratoriais de função hepática. É condição subdiagnosticada, comu- mente confundida com a DHGNA devido à semelhança dos achados ultrassonográ- ficos, e a diferenciação das duas doenças se torna possível com ressonância nuclear magnética ou biópsia hepática. (56) O grande marco da hepatopatia glicogênica é sua reversibilidade diante da otimização da in- sulinoterapia. Diferentemente da esteatose, a sobrecarga de glicogênio não costuma ocasionar a fibrose do tecido hepático. (57) Assim, melhorar o controle glicêmico é o suporte principal da terapia para a hepa- topatia glicogênica, e a eficaz reabilitação diante do manejo adequado do DM1 é vista dentro de 4 semanas nestes pacientes. (58,59) Conclusão Diante da crescente prevalência do diabetes mellitus é essencial que os gas- troenterologistas se mantenham atentos para o diagnóstico e manejo dos sintomas gastrointestinais associados à doença. Re- conhecimento precoce das complicações e terapêutica eficaz são benéficos não apenas para reduzir a progressão da doença, mas também contribuem para o ganho em qua- lidade de vida e bem-estar desses pacientes. Novos estudos para elucidar a complexa fisiopatologia das alterações do trato gas- trointestinal causadas pelo DM se fazem necessários, pois, embora nossas terapias atuais sejam úteis na atenuação dos sinto- mas, um vasto campo relacionado à neuro- modulação, regulação humoral e regenera- ção neuronal se mostra ainda inexplorado, desconhecido e muito promissor. REFERÊNCIAS 1. Saeedi P et al. IDF Diabetes Atlas Committee. Global and regional diabetes prevalence estimates for 2019 and projections for 2030 and 2045: Results from the International Diabetes Federation Diabetes Atlas, 9th edition. Diabetes Res Clin Pract. 2019 Nov;157:107843. 2. Diretriz Oficial da Sociedade Brasileira de Diabetes (2022). DOI: 10.29327/557753.2022-7, ISBN: 978-65- 5941-622-6.

RkJQdWJsaXNoZXIy ODA0MDU2