Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 2 - número 1 - 2023

48 Abordagem clínica nas lombalgias: uma revisão narrativa Mirhelen Mendes de Abreu Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.2, n.1, p.42-60, jan-mar 2023 associada à reorganização estrutural. Alte- rações funcionais, como alterações no fluxo sanguíneo e metabolismo, também foram descritas. Um estudo em pacientes com lombalgia crônica mostrou que alterações anatômicas deletérias e alterações funcio- nais podem ser revertidas com o tratamento. FATORES COMPORTAMENTAIS Em consonância com a revisão da As- sociação Internacional para Estudo da Definição de Dor, lombalgia representa não apenas a consciência sensorial dos danos corporais, mas também uma experiên- cia emocional que pode ser influenciada por outras emoções (p. ex., medo, tristeza e ansiedade) 8 . Psicologicamente, eventos traumáticos podem precipitar ou reforçar uma lombalgia. Em estudo que avaliou as visões relatadas pelos clínicos sobre desen- cadeadores de lombalgia (o que pode su- bestimar a incidência), 3% citaram fatores psicológicos como determinante primário. Em estudos clínicos, as expectativas negativas demonstraram predizer des- fechos negativos de dor. As expectativas dos pacientes baseiam-se na experiência prévia, atitudes culturais, crenças em cui- dados de saúde, contexto e compreensão das suas doenças. Interpretações erradas da dor como sensação de dano estrutural conduzem frequentemente a comporta- mentos de medo e alimentam ainda mais a improdutividade, a depressão e a ansiedade. A dor lombar frequentemente leva os pa- cientes temerosos a evitar movimentos ou atividades dolorosas, colocando-os em um ciclo vicioso de ansiedade, evitação, inca- pacidade e agravamento da dor. Tradicionalmente, a dor lombar era con- siderada um resultado de alguma lesão. (8) Este modelo não reflete o poder da dor para instigar a aprendizagem e adaptação. Indivíduos com dor lombar aprendem a prever, controlar e prevenir eventos doloro- sos. Embora estas formas de aprendizagem sejam naturais e adaptativas em situações agudas, em longo prazo podem contribuir para a persistência da dor e sua cronifica- ção. Aprender a prever a dor ocorre atra- vés da detecção de pistas ou eventos não nociceptivos que precedem ou coincidem com a ocorrência de dor. Tais associações não apenas incitam o medo da dor, elas também podem levar à hiperalgesia. Crenças errôneas sobre a rela- ção dos movimentos particulares e a dor são prevalentes em pacientes com dor lombar, mas também são encontradas entre a saúde laboral. Uma forma particular de aprender a controlar a dor é evitar a aprendizagem; indivíduos com dor lombar aprendem que, quando evitam as pistas preditivas, o au- mento previsto da dor ou lesão é irrompido. O modelo de evitação do medo combina os aspetos cognitivos, emocionais, motivacio- nais e comportamentais relacionados à dor num quadro teórico integrado.

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