Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 2 - número 1 - 2023

24 Manejo das complicações gastroenterológicas no paciente diabético José Galvão-Alves e Bruna Cerbino de Souza Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.2, n.1, p.16-41, jan-mar 2023 ansiedade, depressão e neuroticismo foram associados a aproximadamente o dobro da prevalência de sintomas gastrointestinais em pacientes diabéticos. (13) Diagnóstico Em consenso, a Associação America- na de Gastroenterologia recomenda uma avaliação inicial com minuciosa coleta da história clínica e exame físico detalhado, que deve buscar evidências da presença de neuropatia periférica e autonômica e de complicações micro ou macrovasculares do DM, embora a gastroparesia possa ocorrer na ausência destas. Prosseguindo na in- vestigação, deve-se solicitar inicialmente exames laboratoriais, a saber: hemograma completo, função tireoidiana, glicemia de jejum, hemoglobina glicada, breve painel metabólico, amilase e teste de gravidez, quando indicado. Na sequência, endosco- pia digestiva alta deve ser realizada, a fim de afastar a possibilidade de obstrução mecânica. Na presença de dor abdominal intensa, uma ultrassonografia de abdome é recomendada, para descartar a hipótese de cólica biliar. O achado de restos alimen- tares mal digeridos no estômago ao exame endoscópico, após 12 horas de jejum, na ausência de obstrução piloroduodenal, é altamente sugestivo de gastroparesia. O padrão ouro para o diagnóstico da gastroparesia é a cintilografia do esvazia- mento gástrico utilizando coloide de 99mTc adicionado a uma refeição sólida controla- da. Trata-se de método não invasivo, com exposição à radiação ionizante, que permite documentar o processo de esvaziamento gástrico por meio da captura de imagens seriadas, em intervalos de 15 minutos num período de quatro horas após a ingestão do alimento marcado com radionuclídeo. Re- tenção de mais de 10%da refeição passadas as quatro horas é considerado anormal, selando o diagnóstico. (14,15) Para a realização do exame, medicamentos capazes de alte- rar a motilidade gástrica, como opioides, anticolinérgicos e procinéticos, devem ser suspensos 72 horas antes. Outros métodos diagnósticos vêm sendo desenvolvidos, como o teste respiratório para o esvaziamento gástrico e a Smart- Pill®, porém ainda se encontram indispo- níveis no Brasil. Tratamento O adequado manejo da gastroparesia diabética engloba a correção de fatores de exacerbação, incluindo a otimização do controle glicêmico e dos eletrólitos, modi- ficações dietéticas, emprego de fármacos que aceleram o esvaziamento gástrico ou diminuem a náusea e os vômitos, psico- terapia e, nos casos de falha das medidas gerais e do tratamento clínico, abordagem endoscópica ou cirúrgica. Abordagens gerais e dietéticas Os cuidados gerais abrangem a manu- tenção de uma boa hidratação, correção dos distúrbios eletrolíticos, adequado controle

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