Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 2 - número 1 - 2023

20 Manejo das complicações gastroenterológicas no paciente diabético José Galvão-Alves e Bruna Cerbino de Souza Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.2, n.1, p.16-41, jan-mar 2023 diagnóstico de DM é a glicemia ao acaso (coletada em qualquer momento do dia, independente do horário das refeições) acima de 200mg/dL, associada aos sintomas clássicos – poliúria, polidipsia, polifagia e perda ponderal não intencional. Consi- dera-se ainda glicemia de jejum maior ou igual a 126mg/dL, que em caso de pequenas elevações deve ser confirmado com nova coleta, ou resultado da glicemia de duas ho- ras pós-sobrecarga de 75 gramas de glicose, conhecido como teste de tolerância oral à glicose ou curva glicêmica, maior ou igual a 200mg/dL. Em janeiro de 2010, a dosagem de hemoglobina glicada (HbA1C) passou a fazer parte dos critérios diagnósticos validados pela AGA, a qual determinou o valor de HbA1C maior ou igual a 6,5% compatível com o diagnóstico de DM que, no entanto, deve ser confirmado em outra coleta. Exceção para os casos com sintomas evidentes ou glicemia >200mg%, que torna dispensável a realização do segundo exame. Indivíduos comníveis de HbA1C entre 6% e 6,4%possuem alto risco de evoluir para DM. O valor de 5,7 apresenta uma sensibilidade de 66% e uma especificidade de 88% para predizer o desenvolvimento do diabetes mellitus nos seis anos subsequentes. (2) COMPLICAÇÕES GASTROENTEROLÓGICAS DO DM Doença do refluxo gastroesofágico A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) pode ser definida como uma condi- ção que se desenvolve quando o refluxo do conteúdo gástrico causa sintomas incômo- dos ou complicações. Suas manifestações típicas são a pirose e a regurgitação, no entanto sintomas extraesofágicos podem estar presentes, como tosse crônica, erosão dentária, dor torácica não cardíaca, asma e laringite. A prevalência dos sintomas da DRGE em pacientes diabéticos se aproxima de 41%, segundo estudo conduzido emNew Jersey, Estados Unidos. (3) Vários são os fatores responsáveis pelo estabelecimento da DRGE no paciente diabético, dentre os quais se destacam: redução da secreção salivar relacionada à neuropatia, lentifi- cação do esvaziamento gástrico, retardo na depuração ácida causada pela redução da atividade motora do esôfago/estômago também relativa à neuropatia, aumento do limiar sensorial devido à agressão aos nervos sensoriais do esôfago, hipotonia do esfíncter esofágico inferior (EEI) causada pelo dano à sua musculatura lisa e regur- gitação ácida gerada pela maior frequência de relaxamentos transitórios do EEI, sendo este último considerado o mais relevante mecanismo facilitador do refluxo. A ferramenta primordial para o diag- nóstico da DRGE é a história clínica. A anamnese deve identificar os sintomas característicos, sua frequência, intensidade, fatores desencadeantes e de alívio, padrão de evolução ao longo do tempo e impacto na qualidade de vida. O primeiro exame a ser realizado deve ser a endoscopia digestiva alta (EDA), capaz de revelar a presença de erosões, úlceras e eventuais complicações

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