Publicação científica trimestral do CREMERJ - número 4 - 2022

51 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.4, p.45-54, out-dez 2022 Mediólise Arterial Segmentar – revisão da literatura e relato de casos Pedro Guido Sartori et al. Caso 4. Homem de 67 anos, HAS e ansiedade. Dor epigástrica levou à inves- tigação diagnóstica em 2019, sendo diag- nosticadas três lesões concomitantes em artérias viscerais: dissecções do TC, da artéria esplênica e da AMS, com aneu- rismas do primeiro (diâmetro 16mm) e da AMS (12mm de diâmetro). Iniciado trata- mento farmacológico com antiagregantes e acompanhamento vigiado. Após dois anos, degeneração aneurismática do TC (aneu- risma sacular com 22mm de diâmetro), demandando intervenção. Tratamento rea- lizado pelo método endovascular, percutâ- neo do TC e da artéria esplênica. A AMS não apresentou alterações evolutivas, não sendo tratada neste momento. Resultado satisfatório e duradouro: controle por ATC dois anos após mostra lesões excluídas e ausência de novas áreas afetadas. Independentemente de terem sido trata- dos por intervenção ou que se encontrem em observação vigiada, todos os pacientes devem receber o melhor tratamento médico disponível no momento. Antiagregação é padrão, geralmente dupla, pois amaioria dos casos demanda implante de múltiplos stents e/ou endoprótese; anticoagulantes são indi- cados nos casos de dissecção com trombose e compressão do lúmen verdadeiro ou que sofreram infartos viscerais. Hipotensores, sobretudo betabloqueadores e inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA) ou outros, devemmanter os níveis tensionais sob controle. O uso de estatinas é discutível, pois não se trata de aterotrombose. (5,8,10,11) DISCUSSÃO O grupo de arteriopatias que acomete vasos de médio e grande calibre é diver- so, todavia em sua maioria essas doenças cursam com alterações inflamatórias, ate- roscleróticas ou genéticas, que direcionam o diagnóstico. Ocasionalmente nos depa- ramos com um paciente portador de lesões arteriais sem causa aparente, por vezes multifocais, que não se enquadra em qual- quer doença amplamente conhecida como a DFM, as vasculites e as colagenoses. (16,17) A diferenciação entre MAS e DFM é particularmente delicada. Recentemente, o primeiro consenso internacional para o diagnóstico e tratamento da DFM definiu a doença como uma afecção idiopática, segmentar, não aterosclerótica e não infla- matória da musculatura da parede arterial que leva a estenoses de pequenos e médios vasos. (15) Por essa definição fica difícil dis- tanciar as entidades clínicas. Não há lesões patognomônicas: a lesão típica da DFM em colar de contas pode ser vista em até 28% dos pacientes com MAS, já as dissecções arteriais podem estar presentes em 19,7% dos pacientes com DFM. (8) Alguns autores consideram a análise anatomopatológica a única forma defini- tiva de diferenciação, mas admitem que os achados de imagem e a epidemiologia podem direcionar o diagnóstico. Enquanto a DFM acomete tipicamente mulheres jo- vens, com envolvimento de artérias renais e carótidas, raramente evoluindo para dila- tação e rotura, a MAS acomete adultos de

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