Publicação científica trimestral do CREMERJ - número 4 - 2022

24 Lúpus Eritematoso Sistêmico: o que o clínico precisa saber Mirhelen Mendes de Abreu Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.4, p.13-30, out-dez 2022 mais frequentes. O risco de evento cere- bral isquêmico é mais do que duas vezes comparado com o da população geral, com risco relativo mais elevado no primeiro ano após o diagnóstico de lúpus. Tal informa- ção salienta o alerta para que a busca por fatores de risco se faça de modo ativo e intervenções precoces sejam instituídas. É importante ressaltar que aproximadamen- te 60% dos derrames ocorrem na presença de atividade sistêmica da doença, o que tem implicações em seu manejo clínico-tera- pêutico. Embora a maioria dos eventos se resolvam, eles estão associados à redução da qualidade de vida relacionada à saúde como também associados ao incremento na taxa de mortalidade. Disfunção cognitiva é um problema significativo entre pacientes com lúpus, a despeito de anormalidades observadas pela ressonância magnética. Um estudo desenvolvido por Barraclough et al. avaliou alterações da ressonância magnética para identificar comprometimento de função cognitiva em pacientes com lúpus. Os re- sultados mostraram que os pacientes com lúpus têm pior desempenho em uma tarefa de atenção sustentada e respostas cere- brais alteradas, particularmente quando o comprometimento ocorre em regiões do núcleo caudato. O estudo destacou que pacientes com lúpus são propensos a em- pregar mecanismos compensatórios para manter o desempenho cognitivo e podem pontuar da mesma forma que os pacientes saudáveis pareados em grupo controle. No entanto, os pacientes apresentaram maior propensão à fadiga. Atribuição de manifestações neuropsi- quiátricas relacionadas ao lúpus (o chama- do “lúpus neuropsiquiátrico primário”) é complexa e requer uma abordagem abran- gente e multidisciplinar para descartar imitações (infecções, malignidade, comor- bidades e outros), considerando: (a) fatores de risco (“favorável”), como tipo e tempo de manifestação, presença de atividade generalizada e não neurológica da doença, neuroimagem anormal e análise de flui- do cefalorraquidiano e positividade para anticorpos antifosfolipídios; e (b) fatores de confusão que favorecem diagnósticos alternativos. Novas técnicas de ressonân- cia magnética podem ajudar a diferenciar lúpus neuropsiquiátrico primário de even- tos neuropsiquiátricos não relacionados ao lúpus. O primeiro é caracterizado por hipoperfusão em áreas brancas que à res- sonância magnética convencional normal não tem alterações. O tratamento recomendado exige imu- nossupressão, quando a natureza dos eventos é inflamatória; anticoagulação ou antiplaquetoterapia para manifestações presumidamente trombóticas ou embólicas, e sua combinação se ambos os mecanismos são considerados possíveis. Um grande estudo de autópsia que incluiu ambos os pacientes com lúpus neuropsiquiátrico (70% dos quais tiveram acidentes cerebro- vasculares, principalmente no contexto da atividade generalizada de lúpus) mostrou

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