Publicação científica trimestral do CREMERJ - número 4 - 2022

80 Microbioma e doença pulmonar obstrutiva crônica Hisbello da Silva Campos Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.4, p.74-85, out-dez 2022 Até o momento, a análise do microbioma na DPOC tem revelado variação significa- tiva entre os diferentes compartimentos biológicos do pulmão. As mudanças no microbioma pulmonar contribuem para as exacerbações da DPOC. Foi demonstrado que o uso de corticosteroide oral durante o tratamento das exacerbações leva ao aumento da diversidade da microbiota, ao passo que o uso de antibióticos reduz a abundância bacteriana. (49) O MICROBIOMA INTESTINAL COMO BIOMARCADOR DA DPOC Sintomas como tosse, dispneia e fadiga são comuns na maior parte das doenças respiratórias crônicas, causas frequentes de sofrimento e mortalidade precoce. Em conjunto, reduzem a qualidade de vida, tor- nando o diagnóstico precoce e as medidas prognósticas importantes e desejáveis. Até agora, amaioria dosmarcadores usados para fenotipagemdos pacientes visando apontar a abordagem terapêutica adequada é baseada em exames de imagem, provas de função pulmonar e do coração direito, ou análise celular de amostras de escarro ou do lavado broncoalveolar. (52) Marcadores moleculares ainda são limitados e vêm sendo pesquisa- dos/desenvolvidos para facilitar a detecção de injúria nas células pulmonares ou iden- tificar mecanismos moleculares de doença visando definir tratamentos personalizados. Na prática, o diagnóstico e a avalia- ção da gravidade na DPOC são feitos com métodos de imagem e de medida da função pulmonar. Por esse caminho, o diagnóstico é feito apenas com as lesões/disfunções instaladas, ou seja, tardio. Recentemente, marcadores inflamatórios no sangue pe- riférico ou no ar exalado – contagem de leucócitos, fibrinogênio, PCR, IL-6, IL-8, TNF- α , CC-CCL18, VEGF e NOs – pas- saram a ser avaliados como preditores de taxas de exacerbação, mortalidade e risco cardiovascular. (53-56) Entretanto, marcadores de inflamação não permitem distinguir o processo de adoecimento ou a estrutura que está sendo afetada. Possivelmente, o progresso das ciências ômicas – genômica, epigenômica, transcrip- tômica, proteômica, metabolômica – tornan- do possível desvendar os múltiplos níveis da regulação biológica e sua associação ao progresso da bioinformática e de métodos estatísticos, trará informações suficien- tes para traduzir informações obtidas em amostras da microbiota em instrumentos úteis que permitirão a prática médica per- sonalizada e intervenções terapêuticas precoces. Com a expansão do conhecimento sobre os mecanismos patogênicos da DPOC envolvendo o microbioma e a aplicação das informações resultantes do emprego das ciências ômicas/bioinformática, é possível que sejam identificadas “ assinaturas micro- bianas ” (disbioses, metabólitos circulantes, por exemplo) associadas ao início ou à progressão de doenças pulmonares, que poderão ser usadas como biomarcadores diagnósticos e terapêuticos precoces.

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