Publicação científica trimestral do CREMERJ - número 4 - 2022

79 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.4, p.74-85, out-dez 2022 Microbioma e doença pulmonar obstrutiva crônica Hisbello da Silva Campos pela rede vascular sanguínea e linfática. As microbiotas são numerosas e complexas; suas composições têm efeitos variados nos diferentes locais do corpo, desde simbióti- cos até patogênicos, com uma grande capa- cidade de impactar sobre nossa fisiologia em termos de saúde e doença. (45) Devido à sua magnitude e à existência dos eixos , através dos quais há um intercâmbio en- tre os microrganismos e seus produtos de diferentes órgãos, a microbiota intestinal influencia e mantém a homeostasia do or- ganismo regulando as respostas imunes tanto do sistema gastrointestinal como de órgãos distantes. Os possíveis mecanis- mos envolvidos incluem a regulação de populações de células T extraintestinal, o desenvolvimento de tolerância imune oral através de células T regulatórias (Tregs), a produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs) e a regulação da inflamação sis- têmica. (46) Dessa forma, as células imunes e as citocinas induzidas pela microbiota intestinal e seus metabólitos, como AGCCs, por exemplo, entramna circulação sistêmica através da rede sanguínea e linfática e re- gulam as respostas imunes e inflamatórias no pulmão, influenciando as condições locais de saúde e de doença. Outro fator importante envolvido diz respeito às pressões epigenéticas exer- cidas pelos quase dez milhões de genes identificados na microbiota intestinal que podem levar a alterações genômicas modi- ficando as funções da microbiota pulmonar. (47) Assim, com as evidências crescentes sugerindo uma conversa cruzada entre intestinos e pulmões, bem como o valor da composição da microbiota intestinal nas respostas imunes do hospedeiro, disbioses na comunidade microbiana intestinal es- tão associadas com o desenvolvimento de doenças respiratórias, como asma, DPOC, câncer de pulmão, fibrose cística e infec- ções respiratórias. (48) Pode ser que as condições presentes no microecossistema pulmonar influenciem o microbioma pulmonar na gênese da DPOC. (49) Está demonstrado que a composição da microbiota pulmonar varia com a gravi- dade da DPOC, ressaltando a importância dos desequilíbrios na diversidade e na quantidade dos microrganismos locais (disbiose) nessa microbiota na patogenia da doença. (50) As disbioses podem levar a respostas imunes e inflamatórias ina- dequadas, potencializando as mudanças no microbioma pulmonar e favorecendo a progressão da doença. Num estudo avaliando pulmões retira- dos em cirurgias de transplante pulmonar em portadores de formas graves de DPOC e comparando-os a pulmões de doadores saudáveis não usados nos transplantes, foi observado que o declínio na diversidade e riqueza da microbiota estava associado com a maior destruição alveolar e infil- tração de células CD4. Nos pulmões com DPOC havia expansão das Protobactérias e Actinobactérias, enquanto Firmicutes e Bacterioidetes tinhammaior representação nos pulmões dos controles. (51)

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