Publicação científica trimestral do CREMERJ - número 4 - 2022

78 Microbioma e doença pulmonar obstrutiva crônica Hisbello da Silva Campos Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.4, p.74-85, out-dez 2022 dispneia, tosse e/ou produção de secreção pulmonar. O tabagismo é um importante fator de risco para DPOC, assim como outras exposições ambientais, como aos vapores da queima de biomassa e à poluição aérea. Além dessas exposições, infecções respiratórias e fatores do hospedeiro (alterações genéticas, desenvolvimento anormal dos pulmões e envelhecimento pulmonar) podem predis- por para a doença. (36) A DPOC está entre as três principais causas de morte em todo o mundo. No ano de 2012, por exemplo, causou a morte de mais de 3 milhões de pessoas, que corresponde a 6% de todas as mortes naquele ano. (37) As estimativas são de que suas morbimortalidades irão aumentar nas próximas décadas. (38) Como se pode observar na definição tradicional da DPOC apresentada anterior- mente, ela era definida como uma doença heterogênea causada pela interação de suscetibilidade genética com influências ambientais. Os principais fatores de risco incluíam tabagismo e exposição a fatores nocivos ambientais, como produtos da quei- ma de biomassa, principalmente. Entretan- to, cerca de 50% dos doentes portadores de DPOC não são fumantes e, para esses, os fatores de risco variam geograficamente e incluem: poluentes atmosféricos, exposições ocupacionais, asma mal controlada, exposi- ção ambiental à fumaça do tabaco, doenças infecciosas e situação socioeconômica des- favorável. Os mecanismos etiopatogênicos potenciais incluíam inflamação, estresse oxidativo, remodelamento das vias aéreas e envelhecimento pulmonar. (39) A funda- mentação genética de sua patogênese seria a razão da heterogeneidade das alterações anatomopatológicas observadas e da varia- ção do papel defensor do sistema proteases- -antiproteases contra o estresse oxidativo e a inflamação. (40) Como resultado dessa ação multifatorial, resultariam respostas infla- matórias anormais às partículas e gases tóxicos (41) que gerariam as alterações teci- duais observadas na bronquite crônica, (42) no enfisema (43) e na doença das pequenas vias aéreas, ou uma combinação delas, com ou sem manifestações sistêmicas da doença. (44) Dizia-se, também, que infecções respiratórias contribuiriam para a gênese da DPOC, mas o processo etiopatogêni- co não estava completamente esclarecido. Hoje, está demonstrado que os mecanismos pelos quais infecções pulmonares estão associadas à DPOC envolvem disbioses. Recentemente, com a identificação do valor do microbioma no funcionamento do orga- nismo humano e com a compreensão de que desequilíbrios na proporção das muitas espécies de microrganismos (disbioses) em diferentes órgãos do corpo estavam associados à patogenicidade de inúmeras disfunções e doenças, a perspectiva com que a etiopatogenia da DPOC era vista vem passando por mudanças. O MICROBIOMA NA PATOGÊNESE DA DPOC As interações entre as microbiotas asso- ciadas se dão através de “ eixos ” constituídos

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