Publicação científica trimestral do CREMERJ - número 4 - 2022

27 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.4, p.13-30, out-dez 2022 Lúpus Eritematoso Sistêmico: o que o clínico precisa saber Mirhelen Mendes de Abreu de complicações obstétricas, sustentando o racional para o papel da ativação da via alternativa do complemento na etiopato- genia da doença. Baixas doses de uso de aspirina e alta prevalência de fatores de risco pré- -eclâmpsia em gestantes em uma coorte multinacional de gestantes com lúpus foram recentemente descritas, apontando para uma grande lacuna entre as práticas e as recomendações atuais para o cuidado de mulheres grávidas com lúpus. Bloqueio atrioventricular congênito (BAVc) pode se desenvolver em cerca de 1% de fetos de mulheres anti-Ro/SSA-positivas, incluindo lúpus. Em um registro nacional, indiví- duos com BAVc apresentavam um risco significativamente aumentado para: (a) comorbidade cardiovascular manifestada como cardiomiopatia e/ou insuficiência cardíaca e infarto cerebral; (b) um dis- túrbio do tecido conjuntivo sistêmico e (c) desenvolvimento de alguma condição de autoimunidade ao longo da vida. (18,19) Comorbidades 1. Infecções O risco de infecção em pacientes com lú- pus está associado tanto aos fatores relacio- nados à doença quanto ao seu tratamento. Os pacientes devem receber vacinação de acordo com as recomendações da Sociedade Brasileira de Reumatologia. Imunização contra gripe sazonal e pneumocócica (tan- to Pnv13 quanto Pnv23) é administrada preferencialmente durante a doença estável. Vacinação contra herpes-zóster deve ser realizada em fase de doença inativa e an- tes de iniciar imunossupressão. Vacinação contra COVID-19 é encorajada. Pacientes com lúpus podem ter um esta- do variável de imunossupressão, portanto a infecção deve ser tratada quando em dú- vida. Uma proteína C-reativa elevada torna uma infecção bacteriana mais provável do que atividade de doença. Se a imunossupressão já tiver sido insti- tuída, recomenda-se suspender a medicação por 2 semanas antes da vacina ser adminis- trada e aguardar por mais 2 semanas para o seu retorno. Essa estratégia visa garantir a eficácia da imunização, que pode ser coibida pela medicação imunossupressora. 2. Doença cardiovascular Lúpus é fator de risco independente para doença cardiovascular (DCV), atri- buído tanto a fatores de risco tradicionais e relacionados à doença, como persis- tente atividade da doença, NL, presença de anticorpos antifosfolipídeos e uso de glicocorticoides. (20-22) O uso de estatinas deve ser considerado com base nos níveis lipídicos e na presença de outros fatores de risco tradicionais. Recomenda-se o cálculo do risco de DCV de 10 anos utilizando, por exemplo, a Avaliação Sistemática de Risco Coronariano (SCORE), embora o risco real seja subestimado em pacientes com lúpus.

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