Publicação científica trimestral do CREMERJ - número 4 - 2022

90 Enteropatia induzida por Olmesartana – uma causa pouco conhecida de diarreia crônica Bruna Cerbino e José Galvão-Alves Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.4, p.86-92, out-dez 2022 DISCUSSÃO Enteropatia associada à atrofia vilositá- ria na ausência de marcadores sorológicos para DC constitui um verdadeiro desafio diagnóstico, com amplo leque de condições clínicas a serem investigadas, como ma- lignidade, infecção, doenças autoimunes, imunodeficiências, enteropatia pós-infec- ciosa e induzida por medicamentos, sendo os mais comumente envolvidos a azatiopri- na, micofenolato de mofetila, metotrexato e colchicina. Os bloqueadores do receptor de angio- tensina II (BRA) representam a classe de anti-hipertensivos mais prescrita mundial- mente, (2) tendo sido comercializados a partir de 1995. (3) A losartana foi o primeiro BRA aprovado pela Food and Drug Administra- tion (FDA), seguida pela irbesartana (1997), candesartana (1998), telmisartana (1998), valsartana (2002), olmesartana (2002) e eprosartana (2006). (4) Seu mecanismo de ação consiste na inibição seletiva de recep- tores AT1 da angiotensina II, resultando em vasodilatação e natriurese. Em 2012, Rubio-Tapia e colaboradores identificaram, pela primeira vez, 22 pa- cientes sob uso regular de olmesartana que apresentavam diarreia crônica, perda ponderal e atrofia vilositária associada a inflamação de mucosa à biópsia. Todos os casos exibiam sorologias negativas para DC e não melhoravam com dieta isenta de glúten. (5) Curiosamente, observou-se a recuperação destes pacientes quando, por razões diversas, especialmente hipotensão associada à desidratação, tinham seu anti- -hipertensivo suspenso. A média do tempo de exposição à olmesartana neste grupo foi de 3 anos, sugerindo que o mecanismo do dano infligido à mucosa seja imuno- mediado, em virtude do longo período de latência entre o início da terapêutica e o surgimento dos sintomas. Figuras 6-7 Endoscopia digestiva alta de controle: segunda porção duodenal sem alterações.

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