Publicação científica trimestral do CREMERJ - número 4 - 2022

9 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.4, p.7-12, out-dez 2022 História da Medicina: Para que serve. Qual sua finalidade Carlos Alberto Basílio de Oliveira racionalmente inteligíveis pelos médicos gregos como consequência da abordagem racional do mundo pelos filósofos jônicos; o pensamento teológico dos médicos me- dievais derivado da filosofia escolástica; a significação do movimento anatômico (Vesalius, Da Vinci) durante a Renascença (1453-1600) como consequência do nascer de novo da arte e da cultura da Grécia Clássica; a medicina baseada nas ciências naturais, que se desenvolve com o nasci- mento da ciência moderna no século XVII; a medicina classificatória (classificação das doenças a partir dos sintomas) do século XVIII como consequência da forma de organização do conhecimento científico determinada pelo racionalismo cartesiano; e a concepção anatomoclínica (Morgagni, 1682-1771; Bichat, 1771-1802) da medicina moderna consequente ao empirismo e ao positivismo do século XIX. A criação da patologia celular (1855), por Rudolf Virchow (1821-1902) e até mesmo da descoberta dos raios X, em 1895, porWilhelmConrad Rön- tgen (1845 - 1923), que mereceu o Prêmio Nobel de Física (1901). Sob a influência desta última corrente, ocorreu na primeira metade do século XX, principalmente na Alemanha, com Sudhoff (1853 - 1938), grande avanço nos estudos da História da Medicina. Sudhoff criou a Cátedra de História da Medicina e fundou o primeiro Instituto de História da Medicina, transformando Leipzig no grande centro de estudo desta disciplina. Este renascimento da ciência da História da Medicina na Alemanha irradiou-se com a criação da disciplina nas universidades da Europa e da América. Em nosso meio sobressaem os nomes de Ivolino de Vas- concellos (1917-1995), Pedro Salles (1904- 1998), Lycurgo Santos Filho (1910 - 1998), Carlos da Silva Lacaz (1915-2002) e Joffre Marcondes de Rezende (1921 - 2015) e continua com a provocação de Sebastião Gusmão sobre a influência de necessário conhecimento da História da Medicina para constituir disciplina fundamental à cultura e completa formação da mentali- dade médica. Estas considerações sobre a História seriam aplicáveis também à História da Medicina. Esta é, antes de tudo, medici- na, uma disciplina da História. Mas seria um erro pensar que ela é de interesse apenas para historiadores, e não para médicos. História da Medicina é também medicina, uma forma de abordagem para compreender melhor a própria medicina. É do conhecimento comum que um dos melhores métodos de expor um assunto é o método histórico. Abordar uma questão a partir do momento em que ela nasce, compreendendo as circunstâncias que a originaram, seguir sua evolução, conhecer os fatos e as razões que apoiam ou con- tradizem as diversas teorias, que sobre ela foram emitidas, é uma ótima maneira de compreender a questão. Como afirmou Aristóteles (384-322 a.C.), entendem-se

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