Publicação científica trimestral do CREMERJ - número 4 - 2022

8 História da Medicina: Para que serve. Qual sua finalidade Carlos Alberto Basílio de Oliveira Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.4, p.7-12, out-dez 2022 a história definitiva. Define-se a História como "um processo contínuo de interação entre o historiador e seus fatos, um diálogo sem fim entre o presente e o passado". Ao mesmo tempo, o campo dos estudos históricos alargou-se consideravelmente. A História não se limitava apenas ao estudo das disputas dinásticas, das guerras e dos tratados de paz. Ela tornou-se a história da civilização, a história do homem em sua luta para adaptar-se ao mundo. Na segunda metade do século XIX, a História da Medicina tornou-se uma dis- ciplina crítica, com a colaboração inter- disciplinar de historiadores, filologistas, filósofos e médicos. Os problemas médicos passam a ser vistos de forma dinâmica e como resultado das ideias e instituições geradas pela estrutura material e cultural de dado período. Assim, as teorias médicas que norteiam a prática profissional são vistas como aspecto do conhecimento geral de determinado período, como produtos da influência da concepção filosófica predo- minante. O estudo da gênese e da evolução das doutrinas médicas é, por assim dizer, a filosofia da História da Medicina. A interpretação das teorias médicas como produto de seu tempo permite com- preender: a interpretação da doença como fenômeno sobrenatural e o caráter mági- co-religioso da medicina arcaica (Meso- potâmia e Egito) determinados pela con- cepção mítica do mundo; a interpretação da doença em termos de causas naturais doenças que marca o início da medicina propriamente dita. A medicina primitiva seria, portanto, uma espécie de culinária aplicada a cada tipo de condição patoló- gica. Desta forma, em conformidade com o pensamento de Hipócrates, coloca-se a medicina em bases racionais e se atribui aos homens, e não aos deuses, o conhe- cimento inicial sobre a história natural das doenças. Durante o período clássico (Grécia Clássica e Império Romano) e por meio de Galeno (130-200), a medicina continuou a se basear em Hipócrates. A autoridade de Hipócrates e a de Galeno durante muitos séculos foram dominantes no âmbito da medicina. No século XIX, os historiadores adota- ram amplamente o conceito de que o desen- volvimento da sociedade sofre influência de seu contexto material e cultural, que dá aos fatos históricos sua base comum, sua continuidade e sua coerência. Cabe ao historiador registrar os fatos e interpretá- -los. AHistória passa a ser definida como o registro dos fatos e as ideias dos historia- dores sobre eles e entendida como a ciência dos homens no tempo, sendo importante o presente para a compreensão do passado e vice-versa. O conhecimento do passado é coisa em progresso, que se transforma e se aperfeiçoa. A História, feita de fatos e interpretação destes, é transitória, pois novos fatos são acrescentados e a inter- pretação muda. Por tal motivo, não existe

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