Publicação científica trimestral do CREMERJ - número 4 - 2022

91 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.4, p.86-92, out-dez 2022 Enteropatia induzida por Olmesartana – uma causa pouco conhecida de diarreia crônica Bruna Cerbino e José Galvão-Alves Logo, em 2013, o FDA enfatizou o risco potencial de enteropatia com o uso pro- longado de olmesartana, (6) caracterizando e validando esta condição, marcada por diarreia aquosa significativa, perda de peso, náusea e vômitos e hipoalbuminemia (Tabela 3). Complicações decorrentes deste quadro podem ocorrer, como desidratação, desbalanços eletrolíticos, desnutrição e lesão renal aguda. Os achados histológicos se assemelham à DC, podendo ser encontrados graus variáveis de atrofia vilositária, linfocito- se intraepitelial, além de inflamação da lâmina própria. Os escassos dados disponíveis na lite- ratura não apontam para predominância de gênero e demonstram que a faixa etária mais comumente acometida se encontra acima da sexta década de vida. O estudo da Mayo Clinic, liderado por Rubio-Tapia , identificou ainda uma maior prevalência do HLA-DQ2 nos pacientes diagnosticados com esta condição, sugerindo que talvez este seja um fator predisponente para o dano intestinal induzido pelo medicamento. Em relação ao tratamento, é imperativa a descontinuação imediata da olmesartana, a qual deverá ser substituída, preferen- cialmente, por anti-hipertensivo de outra classe, pois, apesar de ainda mais raros, alguns relatos de caso identificaram a ocorrência de enteropatia associada ao uso de outros BRAs (telmisartana, irbesartana e valsartana). (7) Nenhuma terapia específica é reco- mendada. No entanto, como nosso paciente encontrava-se consumido e desnutrido, optamos por iniciar nutrição parenteral e prednisona, a fim de aliviar os sintomas. A diarreia tipicamente cessa durante a pri- meira semana após a suspensão do fármaco. No follow-up destes pacientes, a recu- peração da mucosa duodenal é vista em um curto intervalo de tempo (em torno de 6-8 meses), sendo este umdado clínico relevante Tabela 3 Critérios para caracterização da enteropatia induzida por olmesartana. 1. Sintomas gastrointestinais (diarreia, perda ponderal, náusea e vômitos) 2. Anticorpos (antitransglutaminase e antiendomísio IgA) negativos, diante de IgA normal 3. Transaminases normais ou aumento justificado por outra condição concomitante ( p.ex ., doença hepática gordurosa não alcoólica) 4. Evidência de enteropatia (atrofia vilositária, linfocitose intraepitelial) 5. Ausência de resposta à dieta sem glúten 6. Exclusão de outras causas de enteropatia 7. Evidência de rápida melhora clínica e histológica após a suspensão da olmesartana

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