Publicação científica trimestral do CREMERJ - número 3 - 2022

97 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.3, p.94-104, jul-set 2022 Diagnóstico e estratégia terapêutica na depressão resistente ao tratamento Walter dos Santos Gonçalves et al. Devido a esta alta prevalência, pro- fissionais de saúde da atenção primária terão contato frequente com pacientes com DRT. A identificação precoce e o correto diagnóstico permitirão que estes pacientes sejam referenciados para profissionais es- pecializados a fim de prover o tratamento mais adequado para estes casos. FATORES ASSOCIADOS À RESISTÊNCIA FARMACOLÓGICA Apesar da sua elevada prevalência, an- tes de realizar o diagnóstico de resistência ao tratamento deve-se sempre avaliar se estamos diante de um quadro de pseudor- resistência. A ausência de resposta medica- mentosa muitas vezes pode estar associada à baixa adesão à terapêutica farmacológica, ao diagnóstico incorreto, ao tratamento inadequado da depressão e à presença de comorbidades clínicas e psiquiátricas (Ta- bela 3). Uma revisão sobre fatores clínicos associados à DRT mostrou que 52% desses pacientes possuíam hipotireoidismo sub- clínico, enquanto outras patologias, como Cushing, doença coronariana, HIV, câncer e diabetes, também aparentam estar asso- ciadas à DRT. Apesar do tratamento dessas afecções melhorar o quadro depressivo, o uso de determinadas medicações como glicocorticoides, anti-hipertensivos e an- tineoplásicos também pode dificultar ou piorar o tratamento da depressão. (9) Outro fator associado à resistência ao tratamento é a presença de comorbidades psiquiátricas. Há uma alta prevalência de transtornos psiquiátricos comórbidos em pacientes com DRT, sendo mais comuns os transtornos de ansiedade (transtorno do pânico, fobia social), o uso de substâncias e os transtornos de personalidade do Cluster B (composto pelos transtornos de persona- lidade antissocial, borderline , histriônico e o narcisista) e Cluster C (composto pe- los transtornos de personalidade depen- dente, evitativo, obsessivo-compulsivo). (3,10) Salienta-se também que há indícios de que vários quadros de resistência ao tratamento na verdade tratam-se de um transtorno bipolar. (11) Tabela 3 Causas de pseudorresistência ao tratamento Tratamento incorreto Fatores psicossociais Ganho secundário com a doença Depressão induzida por medicamentos ou drogas lícitas (ex: alcool) e ilícitas (ex: cocaína) Diagnóstico errôneo de depressão em pacientes com outra doença psiquiátrica (p.ex. : transtornos de personalidade) Comorbidades clínicas e/ou psiquiátricas não identificadas que possam influenciar resposta medicamentosa (ex.: hipotireoidismo, distimia, demência) Não adesão ao tratamento

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