Publicação científica trimestral do CREMERJ - número 3 - 2022
95 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.3, p.94-104, jul-set 2022 Diagnóstico e estratégia terapêutica na depressão resistente ao tratamento Walter dos Santos Gonçalves et al. anos, a literatura ainda carece de uma definição exata de DRT. Atualmente, o conceito mais utilizado pelos autores é o de ausência de resposta terapêutica sa- tisfatória ao uso de dois antidepressivos, em dose efetiva, e por no mínimo quatro semanas. (6) No entanto, esta definição não contempla todas as nuances que o fenô- meno de resistência representa. Diversos outros conceitos podem ser encontrados na literatura, no entanto nenhuma avaliação sistemática de confiabilidade, validade e utilidade preditiva prospectiva dos critérios utilizados foi realizada até o momento. (7,8) Embora esta definição categorial tenha utilidade prática, devido à complexidade do fenômeno da resistência um modelo diag- nóstico dimensional parece ser o mais ade- quado para a avaliação nos pacientes com depressão. Com isto, diversos algoritmos têm sido propostos ao longo dos anos, sendo o modelo de Thase e Rush (1997) um dos primeiros criados com este objetivo. Neste A depressão atualmente é uma das prin- cipais causas de incapacitação no mundo. (2) Isto ocorre tanto por suas características clínicas (Tabela 1), quanto pelo fato de uma parcela dos pacientes não melhorar do quadro depressivo apesar das alternativas terapêuticas existentes. Esta condição clíni- ca de não resposta adequada ao tratamento é comumente chamada na literatura de de- pressão resistente ao tratamento (DRT). Os dados de prevalência dos pacientes que não respondem ao tratamento são variados no mundo. Um estudo realizado no Canadá em 2014 observou que 21% dos pacientes com depressão na atenção primária apresenta- vam resistência ao tratamento, (3) enquanto em um estudo polonês a prevalência foi de 25%. (4) Recentemente, um estudo realizado na América Latina observou uma prevalên- cia de 29% de DRT na região, tendo o Brasil apresentado taxas mais elevadas (40%). (5) Apesar do aumento de pesquisas con- duzidas em pacientes comDRT nos últimos Tabela 1 Critérios diagnósticos de Transtorno Depressivo Maior pelo Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5.ª edição (DSM-5) Humor deprimido Perda de interesse ou prazer Diminuição ou aumento de apetite Insônia ou hipersonia Agitação ou retardo psicomotor Fadiga ou perda de energia Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão (alteração cognitiva) Pensamentos de morte, ideação suicida sem ou com plano específico, tentativa de suicídio Cinco (ou mais) desses sintomas, sendo pelo menos um deles: humor deprimido ou perda de interesse ou prazer. Duração de pelo menos duas semanas, e relato de mudança em relação ao funcionamento anterior.
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