Publicação científica trimestral do CREMERJ - número 3 - 2022

57 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.3, p.49-93, jul-set 2022 Doença associada à infecção pelo Clostridioides difficile . Atualização Nelson Gonçalves Pereira et al. crescimento do Cd; o papel dos anaeróbios, principalmente os Bacteroides spp. e o filo Firmicutes, é crucial neste processo. O sucesso do transplante de microbiota fecal no tratamento das formas recorrentes do Cd é outra demonstração da importância deste mecanismo de defesa do organismo. (23) O Cd, ao se multiplicar, é capaz de pro- duzir vários fatores de virulência como as chamadas proteínas da camada S que inclui a proteína S, fragmentos de peptidoglicano, flagelina e as toxinas A e B, sendo estas duas últimas as mais valorizadas e estuda- das. O Cd é capaz de penetrar na camada de muco, através dos seus flagelos e pro- teases. As cepas toxinogênicas do Cd têm um locus de patogenicidade formado pelos genes TcdA , TcdB , TcdC , TcdE e TcdR . Os dois primeiros codificam a produção das toxinas A e B respectivamente, principais responsáveis pela patogenicidade da bac- téria; o TcdR é um regulador positivo da produção e o TcdC , um regulador negativo. O gene TcdE é o responsável por formação de poros que permitem a passagem das to- xinas. Produzida a toxina A, ela fixa-se em receptores do enterócito; acredita-se que o mesmo ocorre com a toxina B. As toxinas são ativadas e internalizam-se por endo- citose, sofrem uma clivagem e formam-se fragmentos com os sítios ativos das toxinas que se distribuem pelo citoplasma onde vão exercer a sua atuação. A toxina A atua principalmente como uma enterotoxina e a toxina B como uma citotoxina. A toxina B é a mais potente citotoxina e parece agir interrompendo as fibras de actina do citoesqueleto, levando à destruição do epitélio. A toxina A estimula a produção de várias citocinas e quimiocinas, incluindo a liberação de metabólitos do ácido araquidô- nico, substância P, FNT, IL-8, IL-6 e IL-1, e a migração e ativação de neutrófilos e macrófagos, estabelecendo-se um processo inflamatório que agrava as lesões celula- res, levando à perda de líquidos, diarreia, ulcerações e formação de exsudato pseudo- membranoso (Figura 1). A toxina B é fun- damental na virulência, visto que as cepas não produtoras de toxina A causam DCd de gravidade semelhante. No recém-nasci- do, embora a colonização seja comum e se demonstre a presença de toxina nas fezes, a doença é pouco descrita; admite-se que este fato se deve à falta de receptores para as toxinas nos enterócitos, ainda imaturos, e a anticorpos maternos adquiridos pela amamentação. As cepas mais virulentas produzem mais toxinas, como é o caso da cepa NAP1/BI/027 e do ribotipo 078, e ao que tudo indica têmmenos participação do gene TCdC , o qual regula negativamente a produção das toxinas; estas cepas também produzem uma terceira toxina, cuja pro- dução é codificada por um gene em local denominado locus CDT, sendo chamada de toxina binária, cuja atuação na DCd ainda é menos conhecida, embora pareça facilitar a adesividade e contribua para as lesões do citoesqueleto. (2,3,24,25) As cepas de Cd não toxinogênicas po- dem colonizar o cólon, mas não produzem

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