Publicação científica trimestral do CREMERJ - número 3 - 2022

59 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.3, p.49-93, jul-set 2022 Doença associada à infecção pelo Clostridioides difficile . Atualização Nelson Gonçalves Pereira et al. participantes. Alémdo Cd, outros patógenos podem eventualmente estar envolvidos na DAA, como a salmonela, o Staphylococcus aureus , Clostridium perfringens tipo A, Klebsiella oxytoca e a Candida albicans. Al- guns antibióticos têm como efeito colateral atuar diretamente no trato gastrointestinal acelerando a velocidade do esvaziamento gástrico, como é o caso da eritromicina, ou estimulando diretamente o peristaltismo intestinal, como o clavulanato. Os anti- bióticos podem reduzir a quantidade dos anaeróbios da microbiota intestinal, fato que diminui o metabolismo dos hidratos de carbono ingeridos em excesso na dieta, podendo acumular-se e causar uma diar- reia osmótica; como outra consequência, as bactérias diminuem o desdobramento dos sais biliares primários que são agentes estimuladores da secreção colônica de água e sódio, estimulam o peristaltismo, esti- mulam a evacuação e a produção de muco, podendo também causar diarreia. Deve-se lembrar que a diarreia pode ser fruto do uso de outros medicamentos associados aos antibióticos, como laxativos, antiáci- dos, alguns contrastes radiológicos, lactose, sorbitol, anti-inflamatórios não hormonais, antiarrítmicos, agentes colinérgicos, o que não seria DAA verdadeira. 5.2. Infecção associada ao Clostridioides difficile 5.2.1. Portadores assintomáticos Correspondem a cerca de 50% das infecções e podem servir como fonte da infecção para os suscetíveis. Acredita- -se que o estado de portador decorre da resposta imunitária do hospedeiro; não é comum o portador assintomático apresen- tar a DCd durante a evolução da infecção, exercendo um efeito protetor no indivíduo. Embora existam poucos estudos a respeito, o rastreamento e o tratamento dos porta- dores não estão indicados como forma de profilaxia da doença. 5.2.2. Casos leves e moderados Constituem a maioria dos casos sinto- máticos da DCd. Esta apresentação clínica certamente é menos diagnosticada do que a forma grave, pois pode confundir-se com outras causas comuns de diarreia infeccio- sa; a única forma de comprovar a etiologia seria a pesquisa rotineira do Cd em todos os enfermos com DAA. A diarreia é a ma- nifestação principal; em geral o paciente apresenta menos de 10 evacuações diárias, aquosa e às vezes com presença de muco. Embora a pesquisa de sangue oculto nas fezes seja habitualmente positiva, não é comum apresentar diarreia visualmente sanguinolenta; melena, enterorragia ou hematoquezia também são raras na doença. O odor das fezes pode ser característico, lembrando, segundo alguns autores, cheiro de estábulo de cavalos. Dor abdominal em cólica, principalmente no andar inferior do abdome, é comum; na palpação superficial e profunda encontra-se o abdome difusamen- te doloroso; tenesmo ocasional pode ocorrer. A presença de febre baixa ou de moderada

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