Publicação científica trimestral do CREMERJ - número 3 - 2022

CASO CLÍNICO | CASE REPORT 112 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.3, p.112-123, jul-set 2022 Angina de peito refratária: Transplantar ou não transplantar, eis a questão Refractory angina pectoris: To transplant or not to transplant, that is the question Tayane Vasconcellos Pereira Graduanda em Medicina pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, UNIRIO – RJ Ana Luiza Ferreira Sales Cardiologista Doutorado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, RJ Coordenadora do programa de Transplante Cardíaco e Suporte Circulatório Mecânico do Hospital Pró-Cardíaco, RJ Coordenadora do Bloco Cirúrgico do Hospital Pró-Cardíaco, RJ Lígia Neres Matos Enfermeira Mestre pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, RJ Membro do International Consortium of Circulatory Assist Clinicians (ICCAC) Enfermeira do Programa de Transplante Cardíaco e Suporte Circulatório Mecânico do Hospital Pró-Cardíaco, RJ Alexandre Siciliano Colafranceschi Cirurgião Torácico e Cardiovascular Fellowship pela The Cleveland Clinic Foundation, OH – EUA Mestrado pela Universidade de Harvard, MA – EUA Doutorado pela Universidade de São Paulo, SP Professor Adjunto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, UNIRIO – RJ RESUMO O transplante cardíaco é o tratamento de escolha para muitos pacientes com insuficiência cardíaca (IC) terminal que permanecem sintomáticos mesmo sob a terapia médica ideal. Apesar de a cardiomiopatia isquêmica estar entre as principais etiologias que geram a indicação de transplante cardíaco, pacientes com doença arterial coronariana obstrutiva sem disfunção ventricular não são comumente referenciados para programas de transplante cardíaco. Alguns desses pacientes, entretanto, são considerados por diretrizes nacionais e internacionais como potenciais candidatos ao transplante cardíaco caso se apresentem com angina de peito refratária sem possibilidade de revascularização do miocárdio. A definição de refratariedade clínica e da exequibilidade técnica para revascularização do miocárdio além dos riscos envolvidos para as diferentes estratégias de cuidado não são comuns a todos os serviços que lidam com pacientes com doenças cardiovasculares graves e transplante cardíaco. Esse relato pretende discutir o caso de um paciente masculino de 42 anos, portador de doença arterial coronariana obstrutiva grave e com anatomia coronariana complexa, apresentando angina de peito refratária, referenciado para o programa de transplante cardíaco para realização de um transplante combinado coração-rim (paciente com insuficiência renal dialítica e outras graves comorbidades), cujo cuidado foi definido e executado de forma multidisciplinar. O paciente foi preparado para uma intervenção cardíaca de alto risco e teve ótima evolução após cirurgia de revascularização do miocárdio com a nova técnica de endarterectomia extensa, sob visão direta e reconstrução da artéria descendente anterior. Dispositivos para o suporte circulatório mecânico de retaguarda no período perioperatório e avaliação para transplante cardíaco no pré-operatório fizeram parte da estratégia de cuidado individualizada que, felizmente, não foram utilizadas. Nesse momento, o paciente se encontra em preparo para o transplante renal isolado. Os programas de cuidado estruturados, multidisciplinares e amadurecidos em processos de qualidade e segurança podem oferecer alternativas de cuidado alinhadas aos valores e preferências do paciente objetivando melhorar a qualidade de vida e a perspectiva de vida do indivíduo e garantir a utilização racional dos recursos coletivos. Palavras-chave: Transplante de coração; Angina de peito; Endarterectomia; Ponte de Artéria Coronária; Coração Auxiliar. ABSTRACT Heart transplantation is the treatment of choice for many patients with end- stage heart failure (HF) who remain symptomatic even under optimal medical therapy. Although ischemic cardiomyopathy is among the main etiologies that generate the indication for heart transplantation, patients with obstructive coronary artery disease without ventricular dysfunction are not commonly referred to heart transplantation programs. Some of these patients, however, are considered by national and international guidelines as potential candidates for heart transplantation if they present with refractory angina pectoris without the possibility of myocardial revascularization. The definition of clinical refractoriness and technical feasibility for myocardial revascularization, in addition to the risks involved for the different care strategies, are not common to all services that deal with patients with severe cardiovascular diseases and heart transplantation. This report aims to discuss the case of a 42-year-old male patient with severe obstructive coronary artery disease and complex coronary anatomy, with refractory angina pectoris, referred to the heart transplant program for a combined heart-kidney transplant (patient with renal failure on dialysis and other severe comorbidities), whose care was defined and performed in a multidisciplinary manner. The patient was prepared for Correspondência Alexandre Siciliano Colafranceschi Rua Sorocaba, 464 – Sala 302 – Botafogo Rio de Janeiro – RJ CEP: 22271-110 E-mail: as@alexandresiciliano.com.br

RkJQdWJsaXNoZXIy ODA0MDU2