Publicação científica trimestral do CREMERJ - número 2 - 2022

80 Suporte avançado de oxigenoterapia e medidas de resgate em ventilação mecânica invasiva na COVID-19 Luciana Tagliari e Saulo Beiler Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.2, p.75-82, abr-jun 2022 É de extrema relevância salientar que a melhora da oxigenação com aumento de PEEP não necessariamente ref lete recrutabilidade; atenção deve ser dada ao aumento da driving pressure , espaço morto e redução de complacência durante a utilização dessa estratégia. (20,21) Há aqueles que respondem commelhora da oxigenação a manobras de resgate com recrutamento alveolar e titulação de PEEP decremental, como já evidenciavam tra- balhos em SDRA por causas tradicionais. Entretanto, o uso de altos valores de PEEP associados ou não a manobras de recruta- mento não mudam mortalidade. (21,22,23) Outra estratégia que ganhou foco como terapia de resgate da hipoxemia grave foi o modo ventilatório não convencional APRV ( airway pressure release ventilation – ven- tilação com liberação de pressão nas vias aéreas) no método TCAV ( time controlled adaptative ventilation – ventilação adap- tativa controlada por tempo). Esse método utiliza tempos estendidos de alta pressão de plateau em combinação com períodos curtos de liberação parcial de pressão, além do controle para término de liberação em 75%do pico de fluxo expirató- rio, evitando colapso e instabilidade alveo- lar. O resultante da estratégia é a máxima abertura alveolar ao longo de tempo. (24-26) Aliado à posição prona, o método traduz uma técnica de recrutamento alveolar por tempo commelhora da oxigenação enquanto mantém volumes correntes protetores e driving pressure segura. A melhor evidência de medidas de res- gate da SDRA consiste no uso de venti- lação em posição prona. Essa estratégia, amplamente difundida previamente, ga- nhou aprimoramento da técnica durante a pandemia. (27,28) A utilização de óxido nítrico ganhou mais espaço ao considerar a fisiopatologia de shunt , alteração relação V/Q e possibili- dade de melhora da performance do ventrí- culo direito por atuar na vasodilatação da artéria pulmonar, principalmente em casos em que exista hipertensão arterial pul- monar associada a lesão pulmonar aguda. Porém, a prática mostrou somente pequeno aumento na oxigenação e efeito incerto na mortalidade. (29) CONCLUSÃO Embora muitos aspectos da SDRA da COVID-19 sejam similares à SDRA por outras causas, a hipoxemia com compla- cência pulmonar normal, o mínimo colapso pulmonar e a hipoxemia expressiva são distintos em alguns casos de COVID-19 e requerem estratégias ventilatórias dife- rentes. Métodos não invasivos de suporte ventilatório parecem promissores. O papel da fisiopatologia e o reconheci- mento da doença têm implicação no manejo e na tomada das decisões. (20) A experiência dos centros e comparti- lhamento de evidências são fundamentais para as melhores práticas e redução de mortalidade.

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