Publicação científica trimestral do CREMERJ

51 Pancreatite autoimune José Galvão-Alves, Bruna Cerbino de Souza Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.1, p.45-58, jan-mar 2022 da pancreatite autoimune ser uma condição pró-fibrótica, assim também o é o adenocar- cinoma pancreático, no entanto o conteúdo de colágeno médio da PAI é significativa- mente menor em relação à neoplasia, o que se traduz por menor rigidez do parênquima nos quadros benignos. Devido à sintomatologia clínica e aspec- tos radiológicos semelhantes, o diagnóstico diferencial entre PAI e adenocarcinoma pancreático se faz extremamente impor- tante, especialmente nas formas focais, as quais com frequência envolvem a porção cefálica ou processo uncinado e se apresen- tam com a aparência de massa com realce tardio após a administração do meio de contraste. A diferenciação entre as duas entidades pode ser feita através da obser- vação do ducto principal penetrando no interior da massa, (29) a qual favorece o diag- nóstico de PAI, enquanto linfadenomegalia com infiltração peripancreática e atrofia do parênquima a montante são achados que comumente acompanham processos tumorais. Além disso, menor impregnação pelo contraste é vista no adenocarcinoma, em comparação ao quadro inflamatório. (30) Enquanto a forma difusa da PAI, com a clássica imagem de “pâncreas em salsicha”, pode ser facilmente identificada e nos suge- re benignidade, o envolvimento pancreático focal, a despeito de achados imagiológicos sugestivos, pode ser secundário a processo neoplásico ainda diminuto, com inflama- ção do parênquima a montante. Assim, a confirmação histológica no envolvimento pancreático é imperativa e, de modo in- verso, a aparência pancreática normal ao exame radiológico não é capaz de excluir pancreatite autoimune em definitivo. (31) Com o advento da ecoendoscopia (EE), além da análise das alterações macroscó- picas do parênquima pancreático, que ao método se mostra hipoecoico e de volume aumentado, é possível avaliar estenoses do ducto pancreático principal e obter amostras para diagnóstico histopatológico definitivo. (32) Suas desvantagens são o custo, ainda elevado, o fato de ser operador dependente e sua baixa disponibilidade. A elastogra- fia aplicada à ecoendoscopia se baseia nos mesmos princípios da empregada à resso- nância, sendo útil na diferenciação entre lesões pancreáticas malignas e benignas. Apesar da boa acurácia na detecção das alterações do sistema ductal pancreático, a colangiopancreatografia retrógrada en- doscópica (CPRE) é uma técnica complexa, que pode acarretar complicações graves, estando reservada para os casos em que intervenções terapêuticas sejam necessá- rias, como na obstrução ductal. Pacientes submetidos à tomografia com- putadorizada por emissão de pósitrons (PET Scan) na PAI apresentam acumulação de Ga-68 (gálio) e FDG (fluorine-18) no pâncreas e nas lesões extrapancreáticas, que desaparece rapidamente após trata- mento com esteroide, podendo ser usado no diagnóstico da doença, além de ser útil na avaliação da resposta precoce à corti- coterapia (33) (Figura 2).

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