Publicação científica trimestral do CREMERJ

60 Cirrose hepática – abordagem diagnóstica e terapêutica Carlos Eduardo Brandão Mello Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.1, p.59-69, jan-mar 2022 O espectro de apresentação clínica dos pacientes com cirrose hepática pode com- preender desde formas assintomáticas, nas quais os pacientes são identificados inci- dentalmente ao se submeterem a exames médicos periódicos e de rotina laboratorial, até formas de apresentação exuberante, florida, nas quais os pacientes exibemma- nifestações de insuficiência hepatocelular, com icterícia, diáteses hemorrágicas, ascite e hipertensão portal (6-8) (Figura 1). Nos estágios iniciais da cirrose os pacientes podem ser assintomáticos ou, quando muito, exibir sintomas de fadiga e sintomas gastrointestinais. As aminotrans- ferases podem ser modestamente elevadas, enquanto as provas de síntese e funcionais hepáticas podem ser inteiramente normais. Deste modo, é de fundamental impor- tância a coleta e a realização de anam- nese dirigida para o sistema digestório, explorando a presença de sintomas cons- titucionais como astenia (fadiga crônica), náusea, vômitos, anorexia, febre, além dos sintomas específicos como icterícia, co- lúria, acolia fecal e hemorragia digestiva alta, sob a forma de hematêmese e melena. Desnutrição, sarcopenia, emagrecimento e dor abdominal, secundária ao desenvolvi- mento de hepatomegalia, esplenomegalia, ascite e suas complicações, como peritonite bacteriana primária e suas variantes, são manifestações tardias e que devem ser investigadas. Faz-se necessária, também, a reali- zação de exame físico geral e segmentar, pelo HBV. A hepatite crônica pelo HCV é uma das principais causas de cirrose e de indicação para o transplante hepático no mundo industrializado. (1-4) Alémdas cirroses de etiologias viral e al- coólica, extremamente prevalentes em todo o mundo, destacamos, também, as hepatites crônicas e cirroses de natureza autoimune, medicamentosas, principalmente pelo uso de alfa-metildopa, isoniazida, propiltioura- cil, as metabólicas, aquelas por sobrecarga de ferro (hemocromatose) e cobre (doença deWilson), dentre outras. Lembramos que as cirroses encontram-se, nos dias de hoje, dentre as dez principais causas de morte na população mundial, juntamente com as doenças cerebrovasculares, coronarianas, neoplasias, traumas e doenças renais. (1-5) AVALIAÇÃO CLÍNICA (1-5) Na avaliação dos pacientes com cirrose hepática e de sua gravidade faz-se necessá- ria a utilização de propedêutica diagnóstica, calçada principalmente em bases clínicas, laboratoriais (bioquímica e virológica), de métodos de imagem e anatomopatológicos. Todos esses procedimentos objetivam identificar precocemente a doença e a pre- venção do desenvolvimento das formas avançadas e descompensadas da doença e de suas complicações, como as hemorra- gias digestivas e a falência hepática, com alta morbimortalidade, longo período de internação e a inclusão dos pacientes na lista de transplante.

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