PSIQUIATRIA: A REALIDADE DA ASSISTÊNCIA - COMPLETO
Terapêuticas. A distribuição dos Serviços Residenciais Terapêuticos no Estado ainda é bastante reduzida. Observamos, também, que o número de pacientes beneficiados com o Programa de Volta para Casa ainda é pequeno. O principal instrumento utilizado nos países desenvolvidos para possibilitar o processo de desinstitucionalização foram as Unidades Psiquiátricas em Hospitais Gerais (UPHGs). Seria utópico pensar que nenhum dos pacientes tratados nos ambulatórios e postos de saúde precisaria ser internado. Nas UPHGs, os pacientes não só ficam menos estigmatizados, como têm um acesso mais fácil e imediato a outras especialidades no caso de intercorrências clínicas. As UPHGs seguem a dinâmica do hospital geral – diagnóstico e tratamento imediatos, com alta logo a seguir; essa dinâmica é muito diferente da do hospital psiquiátrico – onde o indivíduo tende a ficar internado por períodos mais longos, pois este é encarado como um locus natural do paciente. No Brasil, a partir da década de 80 observamos um número maior de UPHGs, sendo que 1/3 delas foram criadas na década de 90, atingindo um total de 81 UHPGs em todo o país em 1996, com 27 delas em serviços públicos, 18 em universidades e 36 em serviços contratados. Entretanto, o surgimento de UPHGs substituiu apenas umpercentual muito pequeno do total de internações psiquiátricas no país. Nos últimos 5 anos o percentual de internações em UPHGs em relação ao total de internações em leitos de hospitais psiquiátricos se manteve constante, representando apenas 3% das internações psiquiátricas no país. Portanto o país não se beneficiou deste excelente recurso para substituir com sucesso os hospitais psiquiátricos, e esses últimos continuam sendo praticamente a única alternativa para os momentos de crise. As principais explicações para a lentidão do crescimento do número de UPHGs são: - A organização assistencial em torno da internação psiquiátrica favorece a manutenção do hospital psiquiátrico com grande número de leitos. Esse modelo torna a assistência mais barata, sendo assim um meio de conter custos. A diária magra leva os pequenos serviços (UPHGs, micro-clínicas) a fecharem suas portas ou, no caso das UPHGs, a não abri-las. Ao mesmo tempo, todos, inclusive os dirigentes, criticam o macro- hospital; este, contraditoriamente, continua prestando tacitamente seus serviços, como requer omodelo. - A resistência da equipe dos hospitais gerais em aceitar o paciente psiquiátrico, a qual se deve principalmente ao preconceito em relação aos transtornos mentais, como foi constatado em nosso meio por Tavares (1997). Segundo esse autor, as causas da referida resistência são as seguintes: - Transtornos na enfermaria - os pacientes psiquiátricos seriam agitados e provocariam transtornos, ameaçando a tranqüilidade das enfermarias. - Medo do doente mental - o paciente psiquiátrico seria naturalmente agressivo, representando uma ameaça para os outros pacientes e para a equipe. - Preocupações em relação a suicídio, agitação e agressão - o paciente psiquiátrico representaria uma grande responsabilidade para a equipe pela imprevisibilidade de seu comportamento. - Falta de verba para manter equipe especializada e instalações apropriadas. 55
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy ODA0MDU2