PSIQUIATRIA: A REALIDADE DA ASSISTÊNCIA - RESUMIDO

um sistema de cuidados médicos outcome driven (dirigidos pelo resultado). Nos EUA, alguns planos de saúde americanos orientados pelo managed care alertam os psiquiatras para que seja utilizada toda tecnologia farmacológica disponível para tratar doenças clínicas que possam levar a um estado depressivo. É importante que a depressão e a ansiedade sejam tratadas, mesmo quando ainda não atingiram a dimensão de transtorno psiquiátrico, pois agravamo impacto funcional na doença física. A partir desta ótica, as soluções propostas para o sistema de Saúde Mental podem basear-se em serviços de Saúde Mental de emergência e limitar o atendimento do paciente psiquiátrico crônico ao tratamento farmacológico. Qualquer destas soluções é dar umpasso para trás, porque ambos levam a um racionamento extremo da prestação de serviços clínicos em psiquiatria. A defesa de uma reforma na assistência à saúde mental é necessária, pois a distribuição de recursos na área de saúde é injusta, insatisfatória, e indefensável do ponto de vista ético ou científico. A questão de limitar o atendimento ou defini-lo a partir de estratégia de custos é duvidosa, tanto para a clínica quanto para a psiquiatria. A política neoliberal do Banco Mundial e do FMI, em relação às Reformas Sanitárias e à Seguridade Social, fracassou no enfrentamento da desigualdade e da injustiça social na América Latina. Doenças como cólera, malária, dengue e tuberculose voltaram a assaltar o continente, além de não se ter conseguido um controle da AIDS. A utopia do direito à saúde para todos, e de que todos os povos do mundo, até o ano 2000, atingissem um nível de saúde que lhes permitisse levar uma vida social e economicamente produtiva (Declaração de Alma-Ata, 1978), foi definitivamente adiada; o lema “saúde para todos até o ano 2000” de fato transformou-se em pesadelo público nos países pobres, que pagam o maior tributo à AIDS e à tuberculose. Os conflitos e as tensões sociais foram intensificadas pela política de privatização, aumentando a pobreza da maioria da população mundial. A globalização da economia organizou um único mercado mundial onde circula principalmente o capital especulativo, com o conseqüente aumento da prevalência dos transtornos mentais diante da desigualdade. Como já foi dito, para que se evite ao máximo a internação psiquiátrica é indispensável que exista uma rede ambulatorial bem distribuída que se disponha a promover assistência de qualidade os portadores de distúrbios mentais, sejam eles leves ou graves. No Brasil estes dados não estão disponíveis, ou seja, número de ambulatórios de psiquiatria por região; não se sabe nemmesmo quantos ambulatórios existem no país. Por testemunho dos profissionais do setor, sabe-se que são poucos, muito aquém do que seria necessário. Podemos apenas supor, diante do quadro de sucateamento geral do sistema, que esses não tenham sido poupados. As unidades ambulatoriais do INAMPS, antigos PAMs, faziam atendimentos quase trimestrais, que muitas vezes se limitavam à troca de receitas, sem um plano ou proposta psicoterápica ou de reintegração social. Esta realidade não se modificou muito, apesar das lutas e propostas de reforma psiquiátrica, pois os serviços públicos não têm investido na contratação de pessoal, principalmente na contratação de médicos 49

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