BIOÉTICA E MEDICINA

Caso contrário, não haveria progresso nem civilização. Portanto, o problema não é intervir ou não, mas como interferir nesses processos naturais e dizer quais são as preocupações que devem ser tomadas para que isso não se reverta emalgo negativo. - Do ponto de vista ético, eu não vejo nenhuma razão sólida para não fazer a clonagem humana, seja reprodutiva ou terapêutica. Não vejo problemas, por exemplo, numa mulher, que pode ter um bebê pelo método natural, optar por ter uma criança supostamente igual a ela ou ao seu parceiro, através da clonagem. Do ponto de vista biológico, existem seres idênticos por processos naturais: os gêmeos univitelinos. Isso significa que criar dois seres iguais é moralmente reprovável? Vamos dar uma reprovação moral à natureza? Pensando dessa forma, todos os gêmeos univitelinos do mundo seriam considerados uma espécie de aberração, do ponto de vista moral. Acho que adotar esse caminho é muito perigoso, porque ele é discriminador. Temos que tomar muito cuidado para não sermos discriminatórios em relação aos assim chamados idênticos, o que seria tão reprovável como discriminar os “diferentes”. Para mim, a bioética, além de ser uma disciplina acadêmica, tem um papel muito importante em tentar evitar todas as formas discriminatórias possíveis: por isso é uma ética aplicada. Além disso, a bioética tem que aplicar valores ou princípios morais que sejam os mais gerais possíveis, para não criar éticas ad hoc, o que implicaria também em discriminação e injustiças. Portanto, se eu discrimino os clones, vou necessariamente discriminar os idênticos, como são os gêmeos - ressaltou. Em relação à clonagem terapêutica, Roland afirmou que a considera como qualquer outra técnica médica, preventiva ou reparadora. Segundo o bioeticista, a questão preventiva traz conseqüências importantes, sobretudo no que se refere à saúde pública. - Os testes preditivos conseguem detectar probabilidades de adoecimento, o que é positivo numa política sanitária preventiva. No entanto, deve-se ter prudência para não discriminar os eventuais portadores de doenças futuras. Para que os testes preditivos não sejamusados demodo discriminatório e abusivo, é preciso que se tenha mecanismos de controle social, como leis específicas - observou. A seu ver, a questão mais problemática da clonagem é a sua utilização para melhorar a linhagem. Essa questão pode ter conseqüências nefastas, pois se pode querer criar uma linhagem de “super-homens”, com características muito diferentes 71

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