PRÊMIO DE RESIDÊNCIA MÉDICA

246 247 Prêmio de Residência Médica Prêmio de Residência Médica Além disso, muitos casos nunca tiveram avaliações de exames complementares, ou essas foram insuficientes. O paciente com epilepsia de lobo temporal já tinha realizado 8 eletroencefalogramas em outros serviços ao longo da vida (todos com alteração no foco temporal), mas isso não era observado no prontuário. Nunca tinha realizado uma RNM de crânio apesar do quadro grave que apresentava, mas fazia terapia semanal há anos. Praticamente todos os casos psicóticos graves nunca tinham realizado um exame de imagem. E a maioria não teve investigação laboratorial no momento do surto e nem durante o seguimento mesmo em uso de medicações com diversos potenciais adversos. O mais impressionante desses dados é que contrapõe totalmente a formação do serviço de residência médica em psiquiatria do IMPP. Foram ministradas aulas com especialistas renomados e por dezenas de vezes o chefe do serviço orientou a necessidade da busca de dados na história do paciente e como acompanhar a evolução sob a luz dos sintomas. Os profissionais diante dos pacientes tinham conhecimento do que fazer para o trabalho, mas porque esse desencontro entre o conhecimento teórico e a prática? Acreditamos que a resposta para essa indagação seja que a ideologia da rede pública está comprometendo a eficiência do tratamento na saúde mental. Centenas de horas são usadas para doutrinar sobre Michael Foucault e reforma psiquiátrica ao passo que enquanto isso o IMPP com quase 100 pacientes internados não dispunha de um laboratório. Todo um modelo de crenças radicais com conteúdo de esquerda é imposto e rebaixado a ciência para algo “errado” com críticas a qualquer visão mais física e biológica na gênese dos transtornos mentais. Prevalece conteúdos que mesclam ideais da reforma psiquiátrica com o movimento antipsiquiatria, em muitos momentos chegando a negar a doença psiquiátrica e minimizando a importância do tratamento medicamentoso. Ao mesmo tempo construções sociológicas aliadas à psicanálise são apontadas como verdade definitiva. Diante desse modelo radical se estendendo amplamente por toda a rede de saúde mental, em especial nos CAPS, e diante da dificuldade em se posicionar de forma diferente não resta muita escolha ao médico psiquiátrico a não ser tentar se adaptar num ambiente que o considera hostil por representar uma ideologia diferente e por ser portador daquilo que é abominado na maior parte da rede pública de saúde mental: a ciência. Assim, sem determinismos, acreditamos que o meio geral tem no mínimo reduzido os estímulos para a prática da psiquiatria diante de um modelo médico moderno. Análises nesse sentido foram realizadas pelo CFM e pela ABP mostrando o “apagão” da saúde mental no Brasil e a redução do número de leitos psiquiátricos no país. Em resumo, especulamos que a política (ou será polícia?) ideológica está comprometendo sistematicamente a qualidade da atenção em saúde mental no Brasil colocando em risco a saúde da população e ignorando metas de eficiência no atendimento, portanto um descaso com a qualidade. Apesar desse não ser o objetivo primário desse trabalho acreditamos que conseguimos mostrar categoricamente que a abordagemmédica é mais efetiva e humana do que as posições puramente ideológicas que vemos na saúde mental. CONCLUSÃO Como o diagnóstico na psiquiatria ainda é puramente clínico, a elaboração de uma escala para validação contribui para conferir maior segurança na tomada de decisões e ajuda num entendimento mais probabilístico a cerca da hipótese diagnóstica. Aspectos legais e avaliaçõesrelacionadasàconcessãodebenefícios também podem se valer de instrumentos que realcem o diagnóstico tido algumas vezes como impreciso pela falta de exames complementares. Vimos que a EVD é operacional e prática. Age na validação do diagnóstico. Não abole a fenomenologia e as classificações internacionais, mas as complementa. Todavia, vale lembrar que o presente estudo ao mesmo tempo em que construiu a escala também a aplicou, assim sendo, o que temos é um resultado preliminar com um viés importante na adaptação do trabalho. Dessa forma se faz necessário replicar em ensaios posteriores com maior número de pacientes a tabela apresentada. REFERÊNCIAS: ROMEIRO, V. Semiologia Médica. 12ª Edição. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan. 1.980. TOY, E.C. (et al) Casos Clínicos em Medicina Interna. Porto Alegre. Artmed, 2.006 FARAJ, M. (et al) Aspectos propedêuticos essenciais da investigaçäo diagnóstica na prática médica. J. bras. med;71(1):93, 96-8, 100-2, jul. 1996. 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Anexo 1 – Escala de Validação Diagnóstica (EVD) Informação clínica Pontuação 1) Apresentação atual Apresentação atual altamente típica para um diagnóstico 25 pontos Apresentação atual sugere mais de um diagnóstico 10 pontos Síndrome pouco especificada 5 pontos Sintomas atuais não especificados 0 ponto 2) História da doença História da doença característica 20 pontos História da doença não característica ou sem história conhecida 0 ponto 3) Características sócio-epidemiológicas Características sócio-epidemiológicas compatíveis 10 pontos Características sócio-epidemiológicas não compatíveis 0 ponto

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