PRÊMIO DE RESIDÊNCIA MÉDICA

44 45 Prêmio de Residência Médica Prêmio de Residência Médica Após a dissecção e elevação do retalho, a área doadora foi aproximada primariamente com sutura contínua (Fig. 3). O enxerto foi fixado à base do retalho elevado para impedir qualquer contato deste com o leito vascularizado onde, normalmente, não é possível a aproximação da área doadora. O retalho foi fixado sobre a pele dorsal suturada com 4 pontos laterais, eqüidistantes e um em cada ângulo (Fig. 4). Após o procedimento, a região dorsal dos ratos foi envolvida com curativo tipo Bioclusive e eles foram colocados em gaiolas separadas, recebendo água e comida ad libitum. Os ratos dos grupos A, B e C continuaram recebendo nicotina durante o pós-operatório e os grupos B e C receberam pentoxifilina e buflomedil, respectivamente. O grupo D continuou recebendo soro intramuscular e intraperitoneal. O percentual de necrose da pele dos retalhos foi avaliado no 5° e 7° dia de pós-operatório e observado por mais um dia para confirmação desses dados. As medidas foram efetuadas em milímetros e a área de tecido viável foi calculada em cm(Fig. 5). ANÁLISE ESTATÍSTICA Para avaliar o trabalho foi utilizado Teste F (Anova) para análise dos quatro grupos e o Teste T foi aplicado para análise pareada dos grupos A x B, A x C, A x D, B x D e C x D. Foram calculadas as médias e os desvios padrão. A significância adotada foi para “p” menor ou igual a 0,05. RESULTADOS Os resultados de cada grupo estão expostos na Tabela 1. Houve, em todo experimento, um total de 4 mortes, sem um fator causal identificável. Essas mortes ocorreram durante o procedimento anestésico ou no pós-operatório imediato. Alguns ratos foram excluídos do trabalho, pois, apesar do cuidado para isolar a área operada com curativo oclusivo, ocorreu autofagia de parte do retalho, dificultando uma avaliação adequada. Para esses resultados apresentados foram calculadas as médias de cada grupo e o desvio padrão, que foi de: grupo A = 6,83 ± 0,70, grupo B = 7,71 ± 1,73, grupo C = 7,68 ± 1,42 e grupo D = 8,91 ± 2,67 (Fig. 8). O grupo que apresentou menor desvio padrão foi o A e o que apresentou maior desvio foi o D. O resultado do Teste F foi 1,65 e mostrou um p>0,05, portanto não foi significativo. As análises pareadas com Teste T resultaram em p<0,05 quando comparados os grupos A e D (Fig. 7). Os demais grupos, apesar de clinicamente expressaremuma notória diferença, não tiveram “p” significativo a 5% (Fig. 6). DISCUSSÃO A farmacocinética da nicotina tem sido bastante estudada e diversos modelos experimentais existem na tentativa de simular os efeitos do tabagismo no ser humano. Trabalhos realizados comparando a ação da nicotina em forma de base com a do sal tartarato mostraram que a primeira exibe um nível plasmático maior e mantido por mais tempo. Dessa forma, quando optamos por utilizar a base, necessitamos ajustar a dose previamente definida para a administração do tartarato. Por esse motivo, rea-lizamos um teste piloto, durante uma semana, para es-tudar os efeitos clínicos da droga e definir a dose não letal para aquela linhagem de ratos escolhida. Outra dificuldade constante ao estudar os efeitos da nicotina em modelos experimentais é alcançar o nível plasmático que realmente simule um adulto fumante. As variáveis, como o tipo de exposição (fumaça de cigarro, injeções subdérmicas, cápsulas de liberação lenta), quantidade de exposições/dia para manutenção do nível plasmático constante, tempo de tratamento, tipo de nicotina, linhagem do animal utilizado, são muitas e influenciam sobremaneira os resultados encontrados. Portanto, tais variáveis necessitam de outros estudos para serem mais bem definidas. Optamos, baseados em um extenso levantamento bibliográfico, por definir o tempo de tratamento com nicotina em 6 semanas. Durante o procedimento cirúrgico, amostras de sangue dos animais foram colhidas e estocadas para prosseguir os estudos com a dosagem do nível plasmático de cotinina, metabólito da nicotina. Mas podemos considerar o tratamento efetivo, uma vez que, quando comparados os grupos A (nicotina) e D (soro), encontramos uma diferença significativa (p<O,05) na sobrevida dos retalhos dos ratos não- fumantes. A atuação da pentoxifilina na sobrevida de retalhos randomizados tem sido bastante explorada. Seus efeitos hematológicos incluem aumento da capacidade de deformação eritrocitária e aumento do fluxo sanguíneo capilar. Entretanto, outros resultados têm sido descritos. A pentoxifilina aumenta o estado de hipercoagulabilidade, diminuindo a agregação plaquetária, aumentando a plasmina, o fator ativador de plasminogênio, a antitrombina III, e diminuindo o fibrinogênio, alfa-2-antiplasmina, alfa-1-antitripsina e alfa-2-macroglobulina”!’. Tabela I Rato Grupo A Grupo B Grupo C Grupo D 1 8,2 7,6 4,2 2 7 6,6 6 11,6 3 7 5,6 * 4 5,8 6,6 8,6 * 5 7,2 6,4 8,2 * 6 6,4 9,4 9 9 7 * 7,8 11 7,2 8 10 7,4 10,6 9 8 6,4 6 11,6 10 6,4 8,2 média 6,83 7,68 7,71 8,91 Medidas das áreas viáveis dos retalhos de cada grupo em cm 2 *Impossibilidade de aferição adequada sa área viável. Apesar de todos os efeitos descritos, sua aplicabilidade clínica ainda é controversa. Estudos experimentais têmmostrado resultados conflitantes. Alguns autores como Karacaoglan e col. demonstraram aumento na sobrevida de retalhos com uso da pentoxifilina. Enquanto outros não correlacionam as alterações microscópicas com o aumento da sobrevida do retalho. Outro aspecto importante é o período de início do tratamento. Para Williams e cols. (14) é necessário um tratamento pré-operatório de, no mínimo, 14 dias para alcançar os efeitos desejados. Já o trabalho realizado por Hayden, testando 3 diferentes regimes de uso, incluindo administração pré-operatória, não confirmou os achados anteriores. Neste trabalho iniciamos a aplicação da droga no mesmo dia da cirurgia, com base em trabalhos já realizados, prolongando o uso por 7 dias. Os resultados mostraram uma melhora na sobrevida dos retalhos, como podemos observar na Tabela I e no Fig. 8, entretanto esses valores não foram significativos (p>O,05). O cloridrato de buflomedil apresenta um efeito inibitório na agregação plaquetária e melhora a capacidade de deformação dos eritrócitos com fluibilidade anormal. Estudos realizados in vitro sugerem que esta droga tem efeito antagonista inespecífico do íon cálcio e um efeito de bloqueio dos receptores alfa, não específico. Os estudos experimentais têm mostrado bons resultados na tentativa de reverter a isquemia de retalhos. Uhl e cols. (18) demostraram que essa droga pode ter uso terapêutico em retalhos cutâneos e que o tratamento pré- operatório adicional por 5 dias não alte-rou os resultados anteriores. Outro trabalho, iniciando o tratamento 4 horas antes da operação e 5 minutos após, resultou em valores significativos para os dois grupos. Fig. 7 - Resultado do teste T para cada par e sua significância.

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