PRÊMIO DE RESIDÊNCIA MÉDICA

164 165 Prêmio de Residência Médica Prêmio de Residência Médica queda no índice de mortalidade por câncer de colo uterino depois do aperfeiçoamento do programa de rastreamento com o exame colpocitológico.11,12 O rastreamento para o câncer de próstata com PSA e exame anual é capaz de reduzir em 53% o risco de metástase e em 37% a mortalidade específica. 10 Assim como acontece com o câncer de mama, colo de útero e próstata, um rastreamento efetivo poderia levar a uma diminuição na mortalidade e morbidade por câncer colorretal e este deveria ser implementado, tendo em vista que o câncer colorretal representa a terceira neoplasia mais incidente no Brasil 3 . Isto implicaria em um grande impacto na redução tanto da mortalidade relacionada ao câncer como na diminuição dos gastos públicos. As recomendações para rastreamento da população não são uniformes, e variam conforme o risco de um determinado indivíduo desenvolver câncer colorretal. Atualmente, podem ser divididos em baixo, intermediário, aumentado e alto risco. Para os pacientes de baixo risco e assintomáticos não é recomendado nenhum método de rastreio. Para os pacientes de risco médio, o rastreamento pode ser feito a partir dos 50 anos com a pesquisa anual de sangue oculto e caso esta positiva, colonoscopia; pesquisa anual de sangue oculto e retossigmoidoscopia a cada 5 anos, e caso um deles positivo, colonoscopia, ou com colonoscopia a cada 10 anos, sendo a última mais eficiente. Pacientes portadores de risco aumentado e alto risco devem ser submetidos a colonoscopia em intervalos menores (Tabela 3). 5 Após a realização de uma polipectomia, a recomendação é de que após a exérese de pequenos pólipos retais hiperplásicos o rastreamento se inicie com 50 anos, da mesma forma que um paciente sem historia de polipectomia. No caso de 1 ou 2 pólipos adenomatosos tubulares pequenos com displasia de baixo grau, colonoscopia de 5 a 10 anos após a polipectomia. No caso de 3-10 polipos adenomatosos, algum pólipo > 1cm, pólipo viloso ou com displasia de alto grau, é recomendada colonoscopia 3 anos após a polipectomia. Se forem descobertos mais de 10 pólipos na mesma colonoscopia, está recomendada uma nova colonoscopia em menos de 3 anos. 5 (Tabela 3). A colonoscopia tem uma alta sensibilidade na detecção de adenomas, permitindo a ressecção dos mesmos e impedindo, assim, a progressão adenoma-carcinoma. Esse procedimento é capaz de reduzir a mortalidade relacionada ao câncer de 76 a 90%.14No serviço de endoscopia do Hospital Federal de Bonsucesso, são realizadas uma média de 80 a 100 colonoscopias por mês. Nos últimos 6 meses foram realizadas 574 colonoscopias. A maioria das indicações tem caráter investigativo de casos sintomáticos devido a sangramento, anemia ou emagrecimento. Poucos são os casos de colonoscopias indicadas para rastreamento, geralmente pacientes com historia prévia de câncer ou história de Polipose familiar ou HNPCC. O tempo médio de espera para a realização do exame é de 7 dias para pacientes internados e de 30 dias para pacientes ambulatoriais. Acreditamos que esta realidade se reflete em outros hospitais no Estado do Rio de Janeiro, cuja principal porta de entrada ainda é a emergência e as dificuldades de acesso são as mesmas. Dessa forma estes dados podem estar subestimados em relação a gravidade da real situação do controle e tratamento desta doença no nosso Estado. Quando pensamos em âmbito nacional, pode ser pior ainda, em função das grandes disparidades entre os outros Estados. Apesar da existência de recomendações de rastreamento de CCR bem estabelecidas pela Sociedade Brasileira de Coloproctologia e da vigorosa atuação da ABRAPRECI (Associação Brasileira de Prevenção do Câncer de Intestino), não se constata na prática os resultados desejados. Essa realidade pode ser explicada pela falta de políticas públicas, que inclui ausência de infra-estrutura capaz de rastrear a população de médio e alto risco, além da ausência da massificação através dos mais variados meios de comunicação, da mesma forma que é feito com o câncer de mama, por exemplo. Dessa forma, fica compreensível a explicação do cenário encontrado no nosso estado, em que o diagnóstico é geralmente tardio. Ou seja, a população de médio e alto risco não tem informação quanto à sua condição e nos casos que tem acesso à informação, tem dificuldade em obter os cuidados devidos. No Brasil, por ainda não dispormos de uma equidade ao acesso aos profissionais de saúde e, principalmente, aos especialistas que estão diretamente ligados ao tratamento do câncer colorretal, devemos através dos médicos generalistas e da imprensa enfatizar a necessidade de rastreamento para o câncer colorretal, assim como ocorre para o câncer de próstata, colo uterino e, principalmente para o de mama. Dessa forma, medidas efetivas de rastreamento se constituem ferramentas fundamentais para redução dos casos de doença avançada e para melhoraria da sobrevida dos portadores de câncer colorretal. CONCLUSÃO O perfil dos pacientes operados na nossa instituição (e que reflete a realidade nacional) é de doença avançada. Com base nos dados apresentados, fica claro a necessidade de pôr em prática o programa de rastreamento já existente para a detecção de lesões precurssoras e de câncer colorretal no seu estágio inicial com o intuito de aumentar as chances de cura, sobrevida, e, sobretudo, a qualidade de vida dos portadores desta doença sabidamente prevenível. REFERÊNCIAS 1 – Castro, L; Anghinoni, M, Mali Jr J. Câncer de cólon. In: Tratamento cirúrgico do câncer gastrointestinal. Rio de Janeiro: Leonaldson dos Santos Castro e José Humberto Corrêa, 2005: 331. 2 – Rousseau DL, Midis GP, Feig BW, et al. Cancer of the colon, rectum, and anus. In: Feig BW, Berger DH, Fuhrman GM, editors. The M.D. Anderson Surgical Oncology Handbook, 4th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2007.. 3 – . INCA. Estimativa 2010 – Incidencia de Câncer no Brasil. Disponível em <www.inca.gov.br/estimativa/2010 >. Acesso em 22/02/2010 4 – Moesinger, RC – Diagnosis and emerging therapies in the treatment of colorectal cancer. John Hopkins Advanced Studies in Medicine – Oncology 2006: 6(1) 30-9. 5 - Levin B, Lieberman D, Mcfarland B, et al. Screening and surveillance for the early detection of colorectal cancer and adenomatous polyps, 2008: A joint guideline from the American cancer Society , the US Multi-Society Task Force on colorectal cancer, and the American college of Radiology. Gastroenterology 2008; 134: 1570 – 1595. 6 – Winawer S, Fletcher R, Rex D, Bond J, Burt R, Ferrucci J, et al. Colorectal cancer screening and surveillance: clinical guidelines and rationale – update based on new evidence. Gastroenterology 2003; 130: 1872-1885. 7 – Valadão M, Castro LS. Câncer colorretal hereditário. Rev Col Bras Cir 2007; 34: 193-200. 8 – Gatta G, Capoccaccia R, Sant M, et AL. Understanding variations in survival for colorectal cancer in europe: A EUROCARE high resolution study. 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