PRÊMIO DE RESIDÊNCIA MÉDICA
54 55 Prêmio de Residência Médica Prêmio de Residência Médica 36,4 IC) declarou que “não sabe”. Quanto ao número de gestações, 73,1% (59,3- 82,0 IC) das entrevistadas eram gestantes pela primeira vez; 20,9% (11,9-32,6 IC) estavam na segunda gravidez; 1,5% (0,0-0,8 IC) na terceira; 3% (0,4-10,4 IC) na quarta e 1,5% (0,0-0,8 IC) na quinta gestação. Quanto ao índice de abortamento, incluindo os espontâneos e provocados, 83,6% (70,8-90,4 IC) negaram que tenha ocorrido, 14,9% (7,4- 25,7 IC) teve 1 abortamento, 1,5% (0,0-0,8 IC), 2 abortamentos e 1,5% (0,0-0,8 IC), 3 abortamentos (em tempo: 1,5% equivale a 1 entrevistada, a mesma que estava na quinta gestação). As entrevistadas foram inquiridas se consideravam-se “bonitas” antes de engravidar: 77,3% (65,3-86,7 IC) declarou que “sim”, 9,1% (3,4-18,7 IC) que “não”e 13,6% (6,4-24,3 IC), “mais ou menos”. Com a gestação, 10,6% (4,4- 20,6 IC) acredita que ficaram “mais bonitas”; 37,9% (26,2-50,7 IC), “menos bonitas”; 24,2% (14,5-36,4 IC) acredita que “não mudaram” e 27,3% (17,0-39,6 IC), que ficaram bonitas de “forma diferente”. Quantos aos planos para o futuro que nutriam antes de engravidar, 56,1% (43,3-68,3 IC) declarou que pretendia seguir uma profissão que requer nível superior; 27,3% (17,0-39,6 IC), trabalhar em área que não requeira nível superior; 4,5% (0,9-12,7 IC) pretende ser “do lar” e 12,1% (5,4-22,5 IC) não tinha planos para o futuro. Questionadas se acreditam que conseguirão realizar seus planos, 65,2% (52,4- 76,5 IC) declarou que “sim”, 7,6% (2,5-16,8 IC) que “não”, 12 ,1% (5,4-22,5 IC)não tinha planos e 15,2% (7,5-26,1 IC) respondeu que “não sabe”. DISCUSSÃO Os dados sobre estado civil evidenciam que a maior parte das entrevistadas não vive em situação marital com o parceiro, o que poderá significar instabilidade emocional e financeira para esta gestante. Como evidenciado na pesquisa publicada por Sabroza, “o nível de sofrimento psíquico foi maior nas adolescentes cuja reação familiar à gestação foi ruim, …, ou não viviam com o pai do bebê”. 11 A idade média à ocasião da sexarca foi de 14,4 anos, o que está de acordo com levantamento realizado em Maceió, no qual em 2470 adolescentes a sexarca foi aos 14,1 anos”. 12 O período entre a sexarca e a primeira gestação foi menor que 1 ano para 44% das entrevistadas. Algumas das razões apontadas para esta grande parcela de gestações no primeiro ano após a sexarca é de que quanto mais cedo ela ocorre, mais freqüente que a adolescente não procure informações sobre contracepção. Este comportamento se estabelece seja por vergonha, por repressão ou por não compreender o impacto de uma gestação e o quão provável é que ela ocorra. 13,14 A gestação foi planejada em 28,8% dos casos e não-planejada em 71,2%. Este dado demonstra que são necessárias ações diversificadas na prevenção destas gestações, que frequentemente estão voltadas para as gravidezes eventuais e no entanto percebe-se que uma parcela significativa delas é desejada. Além das ações em prevenção, é necessário ainda refletir sobre casos em que um jovem casal, estável, deseja gestar: “Caso um casal adolescente queira ter filhos, trata-se de um direito, mas tem que ser com uma atitude planejada e ambos devem negociar como é que vão sustentar o bebê.” 9 O uso de preservativo masculino se mostrou insuficiente, o que está compatível com outros estudos, como o de Dias, no qual 84% dos entrevistados declarou que não utiliza o método. 15 Perguntadas se utilizavam algum método anticoncepcional, no grupo que respondeu que não planejou engravidar, a maioria declarou que “não” e, dentre as que utilizavam, houve preferência pelo uso do preservativo masculino. Esta foi também identificada em estudo com 680 adolescentes, no qual quanto aos métodos contraceptivos citados (ao perguntar qual eles conheciam), a camisinha foi referida por 72,8% e a pílula por 69,5%...”. 16 Os dados que evidenciam as razões pelas quais os métodos contraceptivos não foram utilizados ou o foram de modo incorreto demonstram que, apesar de haver informação sobre o método, esta não é completamente compreendida e não é efetiva, isto é, há barreiras a serem superadas para que estes métodos sejam utilizados que vão além da informação técnica. No estudo anteriormente mencionado, “111 estudantes (16,3%) conseguiu perceber que há diferença de eficácia entre os métodos, enquanto 568 (83,7%) não observaram isso ... quanto ao condom, 512 (75,3%) dos alunos o achavam 100% seguro contra a gravidez”. 16 A reincidência da gravidez ainda antes dos 19 anos é significativa -27,1%- e provavelmente terá impacto ainda maior na vida desta adolescente. Estes resultados vão ao encontro de outros estudos, como este realizado em São Paulo, em 1998, no qual “de 148 mil gestantes adolescentes 26 mil (17,5%) estavam na segunda gestação e 4,5 mil (3%), na terceira”9 e o de Maia Filho, no qual “11,5% das adolescentes tiveram repetição da gravidez no primeiro ano após o parto.” 17 Uma das razões pelas quais as adolescentes têm dificuldade de negociar o uso de preservativo deve-se à insegurança típica desta fase, na qual estão se auto-afirmando como indivíduo e como mulher. Estas nuances são de difícil avaliação estatística, especialmente em um estudo quantitativo. Como tentativa de avaliar a auto-estima das entrevistadas, questionou- se sobre sua auto-imagem. As entrevistadas foram inquiridas se consideravam-se “bonitas” antes de engravidar e se mudaram com a gestação. Em estudo publicado por Amazarray, as gestantes “oscilam entre sentimentos de desprezo e orgulho em relação ao seu corpo. Entretanto o padrão foi que as informantes se percebessem gordas e feias”. 8 Considera-se que há uma correlação entre falta de perspectiva e gestação precoce, o que predomina nesta amostra. Sabroza refere que é “interessante notar que não estar estudando ao engravidar e realizar número insuficiente de consultas no pré- natal estiveram correlacionados a pouca ou nenhuma expectativa em relação ao futuro. O desejo quanto à gestação mostra-se relevante, sendo maior a proporção de puérperas com pouca ou nenhuma expectativa com relação ao futuro entre as que desejaram a gestação, 28,8%, comparada com as que não desejaram, 18,5%”.11 Questionadas se acreditam que conseguirão realizar seus planos, 65,2% declarou que “sim”. É possível que o fato de a pesquisa ter sido realizada em uma unidade que presta atendimento especializado a estas gestantes tenha selecionado adolescentes que buscaram assistência e que têm apoio familiar, assim como pode ter influenciado positivamente em suas expectativas. Ainda assim, fica claro que para 23% delas – que responderam “não” ou “não sei”- a gestação trouxe consigo incertezas. No mesmo estudo acima mencionado, “os resultados demonstram que menos da metade delas considera o estudo como uma possibilidade de ascensão social, e no grupo de 17 a 19 anos este achado é mais evidente, correspondendo a 38,3%. Por outro lado, a maioria demonstrou interesse em trabalhar no futuro”. 11 Segundo a Constituição Federal, cabe ao Estado propiciar recursos educativos e científicos para exercício do planejamento familiar por cada indivíduo. Mais que uma lei, a necessidade de dar recursos e estimular a população a planejar sua prole pode ser facilmente percebida a cada reflexão sobre as dificuldades que a sociedade enfrenta. Quanto ao universo dos adolescentes, a resposta passa necessariamente pela escola. As informações técnicas sobre a fisiologia reprodutiva e os métodos contraceptivos mostram-se tão importantes quanto a discussão sobre sexualidade e maternidade/ paternidade para que sejam efetivos. Sugere- se como ideal a utilização da dupla proteção, associando o preservativo masculino a um método de alta eficácia, que dependa pouco do usuário, como o contraceptivo hormonal injetável e o dispositivo intra-uterino. Alguns estudos concluíram que a abordagem na escola
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