CREMERJ em Revista - Ago/2020

CREMERJ em Revista • Agosto | 2020 13 CR: Sentiu medo? CF: Eu fiquei meses sem visitar minha mãe. Não entrava na casa dela de forma nenhuma. O máximo que eu fazia era dar um tchau de dentro do carro e ela na porta da casa dela. Até porque eu tive a Covid- 19, no final de março. Meu maior medo quando descobri este diagnóstico era de que isso alcançasse pessoas que tiveram algum contato comigo e que tivessem um desfecho ruim, por algo que eu pudesse ter levado a elas. CR: E as pessoas que tra- balhavam com o senhor? Também tinham essa preocu- pação? CF: Sim. Além da pressão do trabalho e de enfrentar uma pandemia, incluindo aí uma doença ainda des- conhecida, vários colegas tinham medo de ir para casa. A preocupação era com a própria exposição, mas principalmente em re- lação aos familiares. Porque a gente não sabia o que podia acontecer. CR: Em relação a este as- pecto, teve alguma iniciativa que considerou importante? CF: A iniciativa do CREMERJ sobre Hotéis Soli- dários foi magnífica. Eu moro sozinho e não precisei, mas alguns colegas, sim. Eu tive residentes que usaram a iniciativa e ficaram hos- pedados. Alguns moravam com familiares em trata- mento de doenças, como câncer, e que não poderiam se expor ao vírus de jeito nenhum. Esse projeto deu um apoio importante aos colegas. Enquanto eles aju- davam a população, eles tinham esse suporte e sem custo. CR: O que se tira desta pandemia? CF: O grande legado é levar essa história adiante. Nós enfrentamos a pandemia e vamos poder ensinar mais. Essa situação também nos fez refletir sobre a parte humana do atendimento, que isso precisa ser mais explorado. A medicina não é só uma questão técnica, mas cuidar, amparar, dar uma palavra, olhar mais para o paciente. O médico é também aquele que vai dar um apoio. Às vezes, a força necessária para o paciente encarar um tratamento. CR: E para quem está começando agora? Qual é a dica para obter êxito na carreira? CF: Eu tive uma trajetó- ria difícil para conseguir me formar, mas consegui alcan- çar grandes objetivos na minha vida, porque sempre tive muito empenho. E as oportunidades chegaram. Quando a gente dedica de coração nosso tempo, nosso carinho, nossa força para alguma atividade ela só tem a trazer frutos bons. O ato médico pode pare- cer, às vezes, mecânico e isso faz cair a qualidade do atendimento. Quando a gente atende olhando para o ser humano que precisa de você naquele momento, a medicina é excepcional, uma missão. A dedicação, o carinho e o amor nos fazem ter resultados positivos. Médico Jovem No Hospital dos Servidores do Estado, dedicação ao ensino médico

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