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CREMERJ em Revista • Março | 2020 9 situações como esta vitimas- se mais mulheres. Sua meta passou a ser a especialização em obstetrícia e o trabalho na prevenção de complica- ções durante o parto. No entanto, realizar este desejo não seria tão fácil. Naquela época, mulheres ainda não podiam frequen- tar universidades. O que tornou possível seu acesso ao curso foi um decreto as- sinado por D. Pedro II, em 1879, que proibiu a discri- minação contra mulheres no ensino superior. A partir deste momento, estudantes do sexo feminino passaram a ter acesso à graduação. Em 1884, Rita e sua famí- lia deixaramo Rio Grande do Sul e se mudaram para o Rio de Janeiro, onde ela, aos 17 anos, e umde seus irmãos se matricularam na Faculdade de Medicina. Mas a passa- gem de Rita na universidade carioca foi curta, apesar do excelente desempenho. Seu irmão, na época, envolveu- -se em um conflito com a direção da instituição, o que tornou impossível a perma- nência dos dois. Ela, então, concluiu apenas o primeiro ano no Rio e precisou pedir transferência para a Facul- dade de Medicina de Salva- dor, na Bahia. Determinada em obter o título de médica, venceu a hostilidade inicial dos colegas e professores, conquistando aos poucos sua simpatia, até receber do corpo docente da tradi- cional instituição baiana as maiores avaliações. Focada, Rita concluiu o curso que durava seis anos em apenas quatro. Ela se formou aos 21 anos. Após a formatura, retornou ao Rio Grande do Sul, onde iniciou a prática da profissão. Pas- sou a clinicar em casa e nos arredores da cidade, aten- dendo à população mais carente, assim como no hospital onde sofria muita discriminação por parte dos outros médicos homens. Com a morte do marido, em 1926, passou a buscar novas motivações. Come- çou a apoiar o movimento feminista na luta pelo direi- to ao voto e acompanhou algumas vitórias de perto, como o triunfo do Código Eleitoral de 1932 e a eleição da médica Carlota Pereira de Queirós para o Congres- so Nacional. O envolvimento com a militância feminista levou Rita Lobato ao cenário polí- tico. Ela disputou, em 1934, o cargo de vereadora de Rio Pardo, no Rio Grande do Sul. Em 21 de agosto do mesmo ano, foi eleita como a primei- ra mulher a ocupar a posição no estado. Embora tenha tido o mandato interrompi- do pela ascensão do Estado Novo, a médica continuou a apoiar e lutar pelo que acre- ditava até o fim da vida. Rita Lobato Velho Lopes faleceu na Estância de Capi- vari, em Rio Pardo, Rio Gran- de do Sul, aos 87 anos, em 6 de janeiro de 1954, deixando uma história surpreendente, que inspira e motiva. A seguir, entrevista com a médica Rosa Celia Pimentel

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