CREMERJemRevista-Jul19

CREMERJ em Revista • Julho | 2019 21 CREMERJ em Revista - Você se considera um ícone da neurocirurgia? Paulo Niemeyer - Poxa, nunca pensei em que res- ponderia isso. Sou uma re- ferência para os mais jovens pelos meus anos de profis- mos à perfeição. CREMERJ em Revista - O “ícone” tem medo? Paulo Niemeyer - Para ser cirurgião não se pode sentir medo, pelo contrário, tem que ser corajoso e oti- mista, pois se nós sairmos de casa com medo e pessi- mismo não abriremos a ca- beça de ninguém. É a cora- gem para abrir e otimismo para achar que vai dar certo (risos). Na verdade, a par- te mais difícil nem é abrir a cabeça. É ter coragem para falar com o doente, tomar decisões e todo o processo que envolve o tratamento médico. A responsabilidade é sempre nossa. CR - Alguma vez deixou de operar porque se sentiu incapaz? PN - Inúmeras vezes dei- xei de operar por achar que não devia. O sucesso da ci- rurgia não é só a habilidade do cirurgião, também está no critério, no bom senso, na escolha. Se operarmos todo mundo vamos ter re- sultados muito ruins, pois nem todos os casos são de operação. Lembro de vezes em que, depois de refletir em casa um dia antes, com o paciente já na sala cirúr- gica, desmarquei por achar que não devia. O paciente ficou muito chateado, de- pois entendeu. Precisamos de coragem até para reco- nhecermos os nosso limites. CR - Você tem um ritual durante a cirurgia? PN - Eu gosto muito de silêncio, peço para que nin- guém fale e que desliguem os celulares. Também apago as luzes para operar na sala escura. Não gosto de nada que me distraia. Estudar o caso na véspera também é importante. Encontramos o paciente em algumas con- sultas rápidas e não perce- bemos alguns detalhes im- portantes de imediato. CR - Algum caso curioso? PN - Uma vez, uma pa- ciente me procurou com um tumor cerebral. Já estava perdendo a visão. Eu falei que teria que operar e ela logo respondeu: “Dr. Eu sou diabética”. Disse que não ti- nha importância, pois equi- libramos a diabetes. Ela respondeu: “Mas eu tenho pressão alta”. Respondi que controlamos a pressão. De- pois de alguns empecilhos colocados por ela e solucio- nados por mim, ela final- mente revelou: “Além disso, eu tenho dez anos a mais do que diz a ficha”. Acho curio- so até onde vai a vaidade das pessoas, até mesmo são, acho que isso é natural. Mas não, não me considero um ícone. Acho importante tentarmos melhorar sem- pre, porém nunca chegare-

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