Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 2 - número 3 - 2023

91 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.2, n.3, p.80-100, jul-set 2023 Febre amarela: uma trilha inacabada Terezinha Marta Pereira Pinto Castiñeiras, Luciana Gomes Pedro Brandão, Guilherme Sant'Anna de Lira incluindo vacinação e medida de proteção pessoal contra picada de artrópodes. a. Vacina A vacinação é a forma mais importante de prevenção contra a febre amarela. Va- cinas antiamarílicas vivas atenuadas deri- vadas da cepa 17D estão disponíveis desde 1937. A vacina é segura, eficaz, acessível, e uma única dose fornece imunidade prote- tora dentro de 10 dias para 80% a 90% dos vacinados, e respostas imunes humorais e celulares dentro de 30 dias para mais de 99% dos vacinados. (2) Anticorpos neutra- lizantes contra febre amarela podem ser detectados até 35 anos após a vacinação. (47) Em2014, o Grupo Consultivo Estratégico de Especialistas em Imunização da OMS concluiu que uma única dose primária da vacina contra a FA proporciona imunidade sustentada e proteção vitalícia. A recomen- dação atual para a vacina antiamarílica é de única dose (48) e as regulações internacionais de saúde foram revistas para especificar essa recomendação para viajantes. Ainda assim, um reforço em dose única pode ser considerado para residentes de áreas en- dêmicas ou viajantes para essas áreas cuja última dose tenha sido há mais de 10 anos, caso haja preocupação com resposta ina- dequada (por exemplo, vacinação durante a gestação, num período de imunocompe- tência reduzida, e na primeira infância, antes dos 4 anos). Adicionalmente, o reforço pode ser considerado em contextos de maior risco, como viagens para áreas de epidemia ou durante picos de transmissão, estadias prolongadas emáreas endêmicas e trabalha- dores de laboratório manipulando VFA. (49,50) Em geral, as vacinas contra FA são con- sideradas muito seguras. Não há diferenças substanciais entre as vacinas licenciadas atualmente no tocante à imunogenicidade e reatogenicidade. Reações vacinais são em geral leves, ocorrendo em 10% a 30% dos vacinados, e incluem febre baixa, mialgia e cefaleia, que aparecem alguns dias após a vacinação e duram de 5 a 10 dias. (51) Na década de 1990, após a distribuição de mais de 500 milhões de doses ao longo de 50 anos, a constatação de que o vírus vacinal, ainda que raramente, poderia causar doença como o vírus selvagem levou a novas preocupações coma segurança da vacina. Essa constatação transformou políticas e regulações vacinais. Entre os eventos adversos graves re- latados pós-vacinação, constam a doença viscerotrópica e a doença neurotrópica aguda associadas à vacina da febre amarela (YEL-AVD e YEL-AND, respectivamente). Cabe ressaltar que a incidência dos eventos adversos graves na população geral é bai- xa, com menos de 1 caso por 100.000 doses aplicadas para ambos os eventos, porém o risco aumenta com a idade e parece ser maior em homens. (52,53) A YEL-AVD se assemelha à FA sel- vagem com letalidade ainda maior (63%). O vírus vacinal se replica intensamente, causando danos a múltiplos órgãos e teci- dos, e eventualmente morte. Os sintomas

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