Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 2 - número 2 - 2023
50 Esteatose Pancreática José Galvão-Alves e Bruna Cerbino de Souza Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.2, n.2, p.42-54, abr-jun 2023 do DM, essa condição se agrava. No entanto, até o momento, o que se observou é que a DPGNA e o diabetes melito tipo 2 são con- sequências da obesidade, não se podendo afirmar que a esteatose pancreática de- sempenha algum papel na patogênese do DM2, sendo necessárias novas pesquisas para comprovar ou mesmo refutar essa inter-relação. Insuficiência exócrina pancreática É bem estabelecido na literatura que para a ocorrência de sinais e sintomas relacionados à insuficiência exócrina pancreática (IEP) deve haver um grande comprometimento das células acinares. Entretanto, Dupont e sua equipe teorizaram que a redução na secreção enzimática é um fenômeno precoce na lipomatose pan- creática, e que esta seria a segunda causa mais frequente de insuficiência exócrina na população pediátrica. (45) De fato, em algumas síndromes congênitas (fibrose cística, síndrome de Shwachman-Diamond e síndrome de Johanson-Blizzard) há, com alguma frequência, a coexistência de IEP e esteatose pancreática, porém, dados cien- tíficos acerca do tema são escassos e não nos permitem inferir uma relação causal para a população em geral. Alguns relatos de caso (46-49) propõem uma associação com insuficiência exócrina e, assim, novos estu- dos prospectivos devem ser realizados para determinar o real impacto da esteatose no pâncreas exócrino. Pancreatite aguda O risco para o desenvolvimento de pancreatite aguda é maior nos pacientes obesos e com síndrome metabólica, e está relacionado aos seguintes fatores: presença de colelitíase, seja pela maior formação de cálculos de colesterol devido à dieta hiperlipídica ou pela estase da vesícula biliar gerada por intervalos maiores entre as refeições como tentativa de redução do peso corporal; hipertrigliceridemia, cujo excesso de triglicerídios insolúveis no ambiente aquoso sanguíneo resulta em microtrombos na vasculatura pancreáti- ca, causando infarto e isquemia do órgão; efeito adverso das medicações utilizadas no diabetes/síndrome metabólica, como peptídio semelhante a glucagon 1 (GLP-1) e inibidores da dipeptidil peptidase (DDP-4). (50) Tagushi et al. relataram maior risco re- lativo de morte nos quadros de pancreatite aguda em obesos quando comparado com controles de peso normal (RR 6,4; intervalo de confiança de 95%, 1,9-20,9). (51) Estudos recentes têm demonstrado um aumento na resposta inf lamatória nos pacientes obesos, orquestrada pelos adipócitos e mediada por citocinas pró-inflamatórias como leptina, IL-6, IL-1-beta e TNF-alfa, que facilitam a ocorrência de pancreati- te aguda. Outro estudo evidenciou uma correlação significativa entre o grau de esteatose pancreática e a gravidade do quadro de pancreatite. (8,52) Em nossa opi- nião, a esteatose pancreática pode ser uma condição relacionada à maior gravidade
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